quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Futebol e Sociedade



Todos os times tiveram seus maus momentos. Com todo o patrocínio especial da Globo o Flamengo cansou de ser derrotado em semi-finais e finais e é talvez o que tem mais vices (não é o Vasco), viveu períodos tenebrosos. O Vasco tem mais história, mais glórias. Essa fase atual do rubro-negro carioca, absolutista quase unânime é como dizia Nelson Rodrigues: toda unanimidade é burra! (ou perigosa, digo eu).


Esse fenômeno que vive o Flamengo, graças ao patrocínio e transmissões exclusivas da Rede Globo para todo o país, com toda a competência e glamour da Rede, transformou esse clube num fenômeno de adesões,quase uma unanimidade. Não preciso ressaltar como isso afeta a concorrência, como ataca o fairplay, como produz distorções de toda ordem. Toda criança que nasce no país, que antes seguia a tradição familiar ou do pai, que logo recebia uma camisa do clube, hoje a recusa e tem de comunicar que ele torce pelo Flamengo. A velha sentença popular que afirma que todos gostam de fazer parte do grupo ou cube u time que está ganhando, mais poderoso. E pelas campanhas de marketing virou um programa social ir ao Maraca e ver os jogos do Flamengo, vestira camisa do clube em qualquer lugar, até no trabalho  (já vi um jovem com a camisa do time num templo budista como turista no Japão).  Ora, ficou difícil ou mesmo impossível fazer crescer os torcedores dos demais clubes cariocas (especialmente no Nordeste os torcedores torcem para o clube local e para o clube da Globo. No Sul é um pouco mais difícil porque os clubes locais são mais fortes). 
Não é justo nem coincidência que todos os demais clubes cariocas estejam de pires na mão.  

Outra distorção, provocada pela força dom  marketing da parceria Fla x Globo é a concessão do Maraca para esse clube (O Fluminense, como se diz, faz número, quem põe recursos e comanda é o clube da parceria global). Ora, o Maraca é do estado, do torcedor carioca e portanto não poderia estar nas mãos de um só clube. Mas a força produzida pelos milhões rubro-negros (hoje creio que o Flamengo já não depende tanto da Rede, embora ela seja imprescindível para o empreendimento).   

O presidente da República entregou ao supremo dos chineses como presente de visita uma jaqueta do Flamengo, em vez da camisa da seleção brasileira  (quer mais?).

Enfim, o Flamengo, pela dimensão que vem assumindo o adesismo nacional (e repercussões internacionais, certamente) se tornou um ópio do povo, seja lá o que isso pode ou não significar.