quinta-feira, 26 de março de 2020

Negócio da China





Pode ser que a China não tenha culpa, culpa envolve intencionalidade.  Mas certamente é responsável pela origem e extensão da peste que nos assola a quase o mundo inteiro. Podia até ser considerada a primeira e verdadeira guerra mundial, pela amplitude que tomou (o que chamamos guerras mundiais implica um preconceito, pois era coisa entre as potências da época, os demais entraram de gaiatos). No meu tempo de criança um “negócio da China” significava um muito bom negócio, possivelmente ligado ao lucro com a comercialização da seda que fazia o encanto das mocinhas mais ricas e enriqueciam os mercadores em todo o mundo, por aqui os cacheiros viajantes.  Eram realmente lindas as estampas, o tato e até o cheiro eram inebriantes.  Teve ainda a pólvora, descoberta por acaso, mas também muito apreciada mundo afora. A China é um universo deslumbrante e sempre nos seduziu para o bem ou para o mal.  Tempos atrás o produto da China era precário, coisa barata que os mais ricos rejeitavam, embora fizesse a festa da periferia. No mundo do trabalho fez uma razia, explorando operários em condições aviltantes de trabalho. Mesmo os autos, que copiavam modelos ocidentais, eram depreciados. Não sei a ginástica que deve ter feito a OIT (Organização Internacional do Trabalho) para engolir os abusos do negócio chinês. Da China de hoje não preciso de ocupar, está em todas as mídias diariamente e avassaladoramente nas transações internacionais. 
Por enquanto o que nos cabe é conseguir ajuda da China para vencer o desafio da peste. Mas acharia justo buscar adiante uma compensação pelos danos vitais, materiais e morais que sua negligência ou incompetência em gerar ou frear a peste está causando ao mundo. Isso não é omitir que parte do que sofremos é resultado de anos de sacanagem dos nossos governantes, que esbanjam nosso dinheiro (maiormente vindos de impostos) em corrupção, incompetência e burrice administrativa, sem falar de ideologias desviantes dos verdadeiros caminhos civilizatórios que a sociedade precisa trilhar. Nossos governantes também deviam nos pagar de seus bolsos, seguramente recheados imoralmente pelos danos que nos causam. Vocês acham que vão aprender com a experiência do drama atual?

quarta-feira, 25 de março de 2020

Tristes Tempos de Pandemia



Amigos e amigas de 60 anos pra cima. Além do corona, temos outros inimigos que se mostram cada vez mais demonstrativos. É um problema ideológico. Não me estranha, mas não deixa de chocar o alinhamento dos discursos de Trump e Bolsonaro. A leitura para bom entendedor é simples: Não vale a pena sacrificar a vida e a economia do país por um problema que afinal só vai atingir mais duramente os idosos menos saudáveis. Isso tem um nome na história: eugenia, limpeza étnica, racial ou geracional. Simples assim. Uma pena.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Laranja Mecânica




Para os aposentados (e aposentadas) a ocupação domiciliar já faz parte da vida cotidiana. Mas quando se faz obrigatória ela toma um sentido inédito creio que pela falta dos complementos (a ida à praia, ao bar, à galeria, ao cinema...). Fora o risco tentador de discutir as relações, felizmente já formatadas pela memória fraca. Mas o que era habitual ganha outra vestimenta quando se torna obrigatória. Então me permitam sugerir um programa de revisitar os filmes antigos que deixaram grandes lembranças em nossa memória. Um bom filme deve ser visto muitas vezes e garanto que terá coisas novas em cada visita. Ontem à tarde, por sugestão do Lucas, meu filho cineasta, reencontrei-me com Laranja Mecânica, a obra-prima de Kubrick. E ganhei de presente o livro em edição especial dos 50 anos, que é um primor (atenção professor André e primo Luciano). Penetrar nas entranhas da construção da história por Anthony Burgess e depois confrontar a versão cinematográfica de Kubrick, é um grande deleite, que recomendo fortemente. Na ausência do livro, o Google pode dar algumas pistas dessa interação. O tema, o livro e o filme não envelheceram.

Realityshowdavida





Esta manhã eu despertei talvez movido pelos raios de sol que passavam pelas frestas da janela, que mantenho semiabertas, nunca tolhidas pelas detestáveis cortinas blackout. Antes as janelas podiam ficar abertas e ouvíamos os marulhos das ondas do mar, agora os mosquitos da urbanização desenfreada traz os mosquitos e suas consequências. Despertei em harmonia com os tons de uma manhã outonal, meio clara, meio escura, indecisa. Antes de me dispor a sair da cama, quase sempre estimulado pela ideia do café com acompanhamentos convencionais (pão com manteiga, e às vezes bolo de laranja, biscoitos doces, mingau de milho...), tenho o hábito de meditar sobre o dia que terei pela frente.
Logo a imagem da praia se impôs, hora de rever os amigos que trabalham toda a semana e têm apenas sábados e domingos para o encontro tribal. Eu e alguns poucos amigos da praia de todo dia nos juntamos para o prazer mais ampliado. Pensei no prazer de cumprimentar e conhecer as novidades da semana, aquela coisa da conversa mole de passar o tempo. Este verão não foi igual a todos os verões passados, ele não teve quase nada de verão, parece que tivemos um verão outonal. Nossa turma, que já tem cerca de 20 anos com poucas recomposições, foi duramente castigada pela introdução do beach tennis, que segurou boa parte do grupo nas quadras distantes da beira-mar.                                                                                                                                  
À tarde deste domingo eu veria uma partida de futebol, mesmo sabendo que a Rede transmitiria algum jogo do Flamengo, mas eu tenho o pay per view e poderia escolher algum jogo normal.   À noite eu poderia ver algum filme no cineminha de bairro aqui de Ipanema, que em geral passa obras alternativas, menos hollywoodianas.
Então me preparei para sair da cama.  Antes de completar esse movimento me dei conta que estou de quarentena. Bateu a consciência e a triste realidade me abraçou, com a memória de uma semana inteira e intensa já sofrida com as interdições, as ameaças e revelações assustadoras de um mundo que se mostra um enorme fracasso de modelo civilizatório (sic) assumido no planeta. Estamos por aqui afundados numa mistura de realityshowdavida, entre um Big Brother e um Fantástico.
Virei pro lado direito, respirei fundo e me concentrei em trazer de volta algum restinho de sono que me confortasse nesse dia que não sei mais qual é nem que hora vai realmente começar.


domingo, 15 de março de 2020

Mais uma obra prima de Ken Loach




Martha Medeiros não é nenhum gênio literário, mas dá conta de sua coluna do cotidiano das relações sociais. E gosta de cinema. Ela hoje recomenda um filme de Ken Loach, “Você Não Estava Aqui” que a deixou angustiada. Ken Loach é o diretor do também premiado “Eu, Daniel Blake” que tratava do isolamento de idosos que não conseguem se encaixar na sociedade informatizada.  “Desta vez, Loach mostra as consequências da informalidade e do trabalho autônomo como única opção. Nada de férias remuneradas, seguro-saúde, seguro-desemprego, aposentadoria. É pegar ou largar”. A pequena empresa é uma tradição da Europa e foi criticada politicamente por MARX como atividade de pequenos burgueses não revolucionários.  Na sociedade contemporânea, em que as revoluções sociais minguaram, o papel das classes médias se tornou relevante. E a venda da ideia de micro e médio -- empreendedores não chega pela tradição, mas como um sonho de remédio pela falta de empregos. Martha captou bem o desastre: “O que mais deprime é que o filme não parece ficção, e sim um documentário sobre a atualidade. Empreender é uma opção quando se tem suporte, reservas, uma boa rede de contatos. Para quem está sempre começando do zero, é uma ilusão. Você não pode adoecer. Não pode envelhecer. Não pode viver — só trabalhar”.  Infelizmente os governos alimentam essa ilusão e deixam que se danem os brasileiros que colocam seus parcos recursos em risco e se ferram em geral. Para quem tem interesse no tema, o filme é um bom programa.

A Torcida do Flamengo Viralizou





Lamento ter de insistir no tema, mas considero obrigatório, até mesmo pela falta de argumentos contrários dos que são indiciados na narrativa. A Rede Globo apontou no que viu e criou o que não viu. A torcida do Flamengo, ao contrário de todas as demais, no país e talvez no mundo, se transformou numa espécie de torcida organizada toda ela. Nos clubes você tem um grupo menor seletivo que trabalha mais diretamente as demonstrações de fidelidade.  Essa torcida organizada é reconhecida como fanática, que não se importa com o adversário, tomado como inimigo, ela quer é estar junto de sua equipe para o que der e vier, levar sua dedicação. Geralmente a administração do clube financia ou facilita a circulação dessa torcida. No mundo inteiro os exemplos de comportamento desses grupos não são nada exemplares. Tirando, pelo menos por enquanto esse aspecto de violência, no demais a torcida do Flamengo se compota como uma torcida organizada toda ela.  Nenhum clube, talvez em todo o mundo, tem sua camisa esportiva usada amplamente do cotidiano, no trabalho, na festa, e até nos templos. Nenhuma torcida geral vai ao estádio sem saber, muito frequentemente, quem é o adversário. Não se importam se uma vitória é obtida irregularmente e há os que até festejam, por exemplo, um gol em impedimento ou com a mão. Ela não discute esportivamente o resultado de um jogo, uma disputa, ela quer a derrota do inimigo. Quer sair festejando do estádio.  Os três clubes grandes do Rio estão no buraco, não pode ser coincidência, enquanto sobra dinheiro nos cofres do Flamengo e ele confortavelmente eleva os preços do mercado, piorando a situação dos demais. E o Flamengo, assim como tratou comercialmente o desastre com sua garotada no ninho do urubu, sem carinho, sem sentimento ostensivo, também não se importa com a situação dos clubes irmãos. Não há a mínima solidariedade. E não lhe importa se esses clubes vão à lona, se são rebaixados, porque como dissemos antes, a torcida não se importa com grandes espetáculos, se conforma com vitórias falsamente engrandecidas pela mídia que o próprio Flamengo cada vez mais domina. Assim como já ocupa o conselho de arbitragem onde o encarregado vem das hostes de seu parceiro e seguramente será pelo menos simpático com os times da casa, já vem demonstrando como suas armas já alcançam instâncias regionais. Com o dinheiro que tem pode praticar o na Europa começam a questionar (por aqui vai demorar muito ainda), o doping financeiro. O Flamengo, com o dinheiro que tem nas mãos é um risco para o fair-play esportivo no país.
Uma parte da mídia tem ponderado, comedidamente, sobre as questões que trato de encaminhar há bastante tempo.  Um dos temas é o problema das famílias que perdem seus filhos e rompem tradições clubistas de gerações. Famílias dos rivais ensinam seus filhos a resistir à febre rubro-negra
Tatiana Furtado    01/12/2019 – O Globo
Pais criam estratégias para não perderem os pequenos na boa fase do Flamengo; zoações na escola podem influenciar.
Na casa do músico e professor de história Carlos Eduardo Valdez, 34 anos, não se canta “Parabéns pra você”. O hino do Vasco é que dá o tom das comemorações. É assim que ele espera passar o amor ao clube, que já perdura na família há gerações, para o filho Benício de 4 anos.
O momento do Flamengo e as “más influências” na escola e entre parentes próximos geram certo temor de perder o pequeno torcedor para o rival. Mas pais e mães têm suas estratégias para impedir que a atual avalanche rubro-negra interfira nesse vínculo.
O pai utiliza algumas táticas. Ele faz a sua parte vestindo o menino dos pés à cabeça nas cores do clube de coração. Ou associando os gols vascaínos a momentos divertidos.  Mas diz ter argumentos caso precise de uma leve chantagem emocional:
— Damos ao filho uma educação social e procuro utilizar a história do clube, a luta contra o preconceito, de ter preferido ser rebaixado a tirar os negros do time.
Família é decisiva
Um dia um garoto de 10 anos, deixou escapar que torce pelo rubro-negro, quando o Fluminense não joga e só tem partida do Flamengo na TV. O pai, que faz de tudo para os três filhos não escaparem do destino tricolor, se assustou. Diante da surpresa do pai, o filho tentou amenizar, afirmando que é tricolor de coração e nada vai mudar.  O pai explica que o torcedor de verdade se mostra quando o clube está em baixa — conta o gestor de novos negócios, que faz um escudo contra as investidas de um seu irmão rubro-negro.
Os títulos do Flamengo também ecoam na hora do recreio nas escolas. Os torcedores dos rivais sabem que ouvirão piadas sobre a situação dos seus times no momento em que o sinal tocar. E isso, claro, pode fazer as crianças duvidarem das escolhas familiares.

“Felipe cresceu em Santa Catarina, Daniel na Bahia, ambos bem longe dos estádios onde as partidas de seus clubes do coração jogam. Aprenderam a amar o Flamengo e o São Paulo assistindo às partidas desses times pela televisão.”  (Recorte de texto de colunista esportivo do Globo)

Não estranha, nesse cenário, que a torcida do Flamengo não aceite o fato comprovado de que a televisão foi o fator decisivo para o crescimento rubro-negro no país e hoje no mundo.
Trabalhei 20 anos na televisão em filmagens de futebol, viajei com a seleção de 58 e com vários clubes em excursões longas à Região latino-americana e caribenha, como era habitual nos anos 60. Sei, por isso, o que é uma transmissão tradicional e o que é uma transmissão da Rede Globo com o Flamengo, nada parecido. A transmissão de jogos de seu parceiro de longa data (1979) recebem um tratamento de show, como Faustão e Fantástico. A torcida é focalizada de perto, quase entra em campo, a emissora mantém um diálogo quase familiar com a torcida e a narração é vibrante. Um joguinho de nada vira uma atração da Globo com bons índices de audiência, reforçados pelas “chamadas” insistentes.
Recentemente a Rede e o parceiro não se entenderam sobre uma pequena parcela do acordo multitudinal e totalitário. A torcida logo aproveitou para afirmar que a equação era inversa, a Globo que explorou o Flamengo.  Nada verdadeiro, o acordo, como em geral, era de benefícios mútuos, claro. O que está acontecendo é fácil de explicar: os campeonatos regionais são fenômenos regionais e a Rede explora regionalmente. Não tem assim muito interesse. E para o Flamengo era a oportunidade de criar e explorar o show do Maracanã (Outra demonstração de força do Flamengo ao receber arbitrariamente o grande estádio, um marco da cidade e de todas as torcidas para ser “o seu estádio”. O Fluminense é uma forma de dizer que não foi um benefício só do Flamengo, mas o Fluminense entra aí como convidado de pedra, não manda nada). Com o coronavirus e a impossibilidade de encher o Maraca, claro que Globo e Flamengo vão rever o falso problema.
Além da consolidação do estádio o Flamengo está testando outas mídias como o FLA-TV e algumas redes especiais.  Dinheiro não falta.
A torcida, agora no céu se multiplica como virose, aproveitando a baixa dos demais clubes e a disponibilidade de taças secundárias regionais que a mídia parceira enfeita como grandes conquistas.  Existe ainda uma estratégia a ser melhor conhecida, por enquanto só posso levantar como possibilidade: as transmissões de Botafogo, Fluminense e Vasco geralmente iam para alguns estados, dividindo com o Corinthians e o São Paulo para transmissões nacionais enquanto o Flamengo tinha transmissões nacionais. Não estranha depois de 30 anos que o Flamengo tenha torcedor onde chega uma antena da Globo.
Uma palavrinha sobre o perfil da torcida do Flamengo: ela hoje é totalmente inclusiva, do mendigo da esquina ao investidor no mercado de capitais, passando pelo pessoal da justiça e do sistema financeiro público. Veja o perfil de seus dirigentes. Houve um crescimento explosivo, por falta de outras expressões de mesmo porte e o momento do país, com poucas alternativas de vulto. Frustrações amplificadas. É marcante de Ronaldinho Gaúcho recolhido numa prisão no Paraguai, deu autógrafo numa camisa do Flamengo, vestida por um coleguinha também preso.
Vejam também o tratamento que recebe o Vasco de uma estatal como a Caixa. O Clube tem um dinheiro a receber, mas está submetido a exigências burocráticas legais que algum dirigente da estatal (não duvido que seja um flamenguista) está segurando, mesmo contrariando um princípio legal que dá preferência a pagamento de pensão alimentícia e salários. O Vasco tem dinheiro a receber e muita dívida salarial, mas o recurso não sai.  Apostaria na diferença se se tratasse do Flamengo.
Feitas essas reservas, vamos reconhecer a dimensão que tomou tudo isso. O Flamengo tem “consulados” e até “embaixadas” em países estrangeiros, formados em grande parte por brasileiros no exterior e por estrangeiros que admiram o que a Rede Globo internacional mostra há anos. Mudar o que está feito é impossível com o poder acumulado e a falta de vontade do Clube da Gávea (que antes tinha uma sede para os negros e pobres na Praia do Flamengo e uma sede rica na Gávea, onde fazia um dos bailes de mais luxo do carnaval carioca, o Vermelho e Preto).
Fica claro que a proteção ao Flamengo custou perdas aos demais clubes, o jogo é de soma zero.  Mas buscar solidariedade dos dirigentes e da torcida do Flamengo não daria mais do que naquilo que os estudiosos chamam de imunização cognitiva, no âmbito da neurociência. Incrível que nesse grupo, às vezes, se encontram pessoas de alto nível intelectual. Cognitiva vem de cognição, que é o processo de aquisição do conhecimento, incluindo o pensar, a reflexão, a imaginação, a atenção, o raciocínio, a memória, o juízo, o discurso, a percepção visual e auditiva, a aprendizagem, a consciência, as emoções. Envolve os processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo. A imunização cognitiva é um escudo que permite que as pessoas se agarrem a valores e credos, mesmo que fatos objetivos demonstrem que eles não correspondem à verdade. A pessoa cognitivamente imunizada está no terreno da fé, que dispensa o raciocínio lógico. Para ela, argumentos lógicos não têm relevância. O Flamengo não vê que todos lucrariam se houvesse uma repartição menos diferenciada dos dinheiros de transmissão da única e maior rede nacional de televisão?
O Flamengo se transformou em time de massa por acaso e circunstâncias, não por objetivo e aspirações. A mesma elite associada ao Fluminense rachou por desentendimentos de escalação do time e partiu para a criação de uma versão independente. Os fundadores pertenciam à mesma elite do Fluminense. Como não tinha estádio ficou mais exposto e evidência dos moradores da Zona Sul da Capital.   E como se opunham ao time das elites, não por razões de classe, obviamente, talvez tenha sido entendido como adversário do time das elites. As cores fortes da camisa (houve várias tentativas até chegar à base do modelo atual) e ações mais agressivas do grupo, que enfrentava a falta de estádio e de recursos e tinha de começar do começo, tornou-se simpático a uma torcida emergente da Zona Sul. Até hoje o Flamengo é o time da classe média alta, dos profissionais liberais, dos empregados públicos de maior hierarquia, e, claro, mais recentemente estendido pelas campanhas da Globo desde 1979  (procurem as estatísticas de conquistas  de antes dessa data e depois dela) a todas as parcelas da população cobertas pela Rede.


quinta-feira, 12 de março de 2020

Credibilidade Viciosa da Mídia




Pesquisa realizada nos Estados Unidos:
Um primeiro resultado da pesquisa mostrou que os professores – assim como acontece com o restante da população, independente da profissão ou grau de escolaridade – também são impactados pelo viés de confirmação, ou seja, a pré-disposição em dar credibilidade a notícias que confirmam nossos pontos de vistas prévios, e a descartar aquelas que contrariam nossas crenças pré-concebidas, independente da qualidade da informação. Docentes que se declaravam como conservadores, por exemplo, davam alto grau de credibilidade à Fox News (canal mais assistido por Republicanos), e baixa credibilidade ao New York Times e à CNN, frequentemente atacados pelo presidente Donald Trump. Já entre professores progressistas, ocorria justamente o inverso.

(relatado na mídia)

Urnas eletrônicas




As recentes declarações do presidente nos autorizam a entender que ele não aceitaria um resultado adverso nas últimas eleições presidenciais. Aliás ele vinha condenando as urnas eletrônicas em sua campanha até que em um momento silenciou. Se assumirmos sua desconfiança, teria ele recebido garantias de que estava eleito? Algo assim como: fica quieto que você a taça é sua! Aliás, como ele fez essa nova declaração no estrato de sua visita aos Estados Unidos, que também não acreditam em urnas eletrônicas e o que vale pra eles é vale pra nós, não estaria demostrando mais uma vez sua filiação ao modelo?  Outro corolário: se ele não acredita não está implicitamente autorizando seu adversário a também não acreditar nos resultados?


Exclusividade de O Globo no Rio




O Globo ainda é o único jornal de qualidade no Rio de Janeiro. Sabemos qual é a sua ideologia e o compromisso político. Quem tiver posições contrárias precisa também conhecer a posição do adversário. Quem comparte posição fica mais informado. É assim que funciona. Curioso, em particular, os flamenguistas, que malham a Globo e devem a ela o que são hoje. É aquela coisa de cuspir no prato que comeu. Quanto à TV, é a maior e melhor produtora de conteúdo do país e a única realmente que valoriza o Rio de Janeiro (exceto quando afundou o Brizola mostrando só um lado do governo, o pior), como nas novelas. Eu sou contra a editoria de esportes e aplaudo a produção de entretenimento. Aproveito os comentaristas políticos para me informar, mesmo quando não concordo com o que dizem. É assim que funciona. Faltam jornais expressando opiniões divergentes, o que fundamentaria uma democracia. As informações estão muito concentradas em poucas fontes, o que é ruim.

quarta-feira, 4 de março de 2020

REFLEXÕES SOBRE A IMPOTÊNCIA DA VIDA HUMANA E DA POLÍTICA






Todos os governos em todos os tempos foram sempre de Direita, salvo em curtos espaços de tempo, logo inviabilizados pela concorrência de interesses poderosos que nunca perderam o controle real da vida humana aqui na Terra. Em raros momentos da história, pela soma de ganhos laterais gerados pela acumulação tecnológica, governos mais ligados ao povo alcançaram o poder político. E tentaram implantar processos de integração e participação social, melhor distribuição de renda em sociedade, mas chegaram sempre a um ponto onde as mudanças foram consideradas perigosas, ou excessivas pelas classes dominantes, reais detentoras do poder político, que não precisavam se  mostrar ou ostentar, e os tais governos se viram confrontados com muralhas que não podiam superar. O desgaste da impotência, da capacidade de avançar nas mudanças, geraram insatisfação popular que facilitaram ao poder real se tornar visível e eficaz, assumindo um papel de solução que é falso porque nunca irá enfrentar os obstáculos que geraram insatisfação, porque esses obstáculos não fazem parte de sua práxis e sua agenda. Mais uma vez, como no conhecida “Síndrome de Estocolmo” em que se instala um estado psicológico especial onde uma população submetida por tempo prolongado à sensação de impotência, diante de um governo desgastado por essa impotência, passa a ter simpatia e até mesmo crença, esperança e admiração perante o seu verdadeiro agressor, autor dos obstáculos que justamente inviabilizavam o seu governo e o impediam de ir adiante.  Os governos mais democráticos, são por natureza os mais frágeis, precisam fomentar participação e com isso geram custos em tempo e capacidade decisória, e perdem no confronto com estruturas autoritárias, centralizadoras e capitalistas, chegando a um ponto onde o confronto se dá e a aparência de alternativa viabilizante fortalece a Direita e  produz a sensação enganosa de que  os problemas serão enfrentados e resolvidos, quando na verdade os problemas serão postos de lado e outras prioridades serão trabalhadas com forte apoio da mídia. A Direita se torna explicita e desavergonhada, perde o antigo pudor.
Muita pena que o PT se tenha descarrilhado. Era a única verdadeira alternativa política aos velhos e viciados partidos tradicionais, dominados por artimanhas financeiras forjadas pelas classes dominantes e centradas no capitalismo financeiro. Uma grande pena para o país, porque além do crime hediondo de fomentar o roubo do dinheiro público (todos deviam estar presos e submetidos a vexame para dar exemplo), perdemos a chance de viabilizar um partido de Esquerda no país.
Dito isto, estamos diante de um impasse. Sabemos o que precisaria ser feito para obter melhor distribuição de renda e dos benefícios civilizatórios, mas somos impotentes para viabilizar os caminhos desenhados. Textos como os de FHC na atualidade pontam o que precisa ser feito, mas não elucidam como.
Creio que estamos de acordo que não devíamos, por princípio, votar em reeleições e em parentes de eleitos, a democracia necessita rotação no poder, e que todos os postos públicos deviam ser ocupados por concurso, valendo para tribunais superiores e similares. Mas como viabilizar essas escolhas?
Sabemos que eleição não pode ser confundida com produto comercial e submetida a propaganda enganosa, os candidatos deviam ser obrigados a cumprir suas promessas de campanha a menos que novas circunstâncias possam explicar suas mudanças, que precisarão ser muito bem justificadas às nossas autoridades encarregadas de garantir que eleições não são anúncios de sabonetes ou cervejas, que você pode recomendar uma e usar outra. Mas, e daí?
Podem variar os discursos e as intenções geralmente mesquinhas e imediatistas dos candidatos, mas a grande nação seguirá o mesmo rumo já traçado de país periférico, com algum economista neoliberal assegurando a preservação dos compromissos internacionais e um pequeno clube de notórios economistas liberais confeccionando o bolo governamental.

Nota: A diferença entre governos de Esquerda e de Direita, é que este governa, por  natureza, para o capital e a classe dominante, promove concentração de renda e reforça diferenças de classe, na expectativa teórica de que essa estratégia produz abundância suficiente para distribuir as sobras entre os simples mortais.  Não tem compromisso com democracia. O governo de Esquerda (não o governo populista, que se diz de esquerda, mas se comporta à direita) confia na distribuição precoce de renda como mecanismo estimulador da economia, incluindo participação social e investimento público em áreas estratégicas. E persegue a democracia como meta ideológica.


Menos pessoas procuram emprego e inatividade bate recorde




No conjunto um cenário extremamente preocupante, pois cada trabalhador desempregado ou subempregado, ou informalizado precariamente, representa uma perda de recursos para o país. Cada ser humano que deixa de produzir, por qualquer razão, é um recurso que o país deixa de utilizar.
De acordo com o IBGE, a queda do desemprego em relação ao trimestre anterior se deu em função do aumento da população fora da força de trabalho, ou seja, pessoas que não estão procurando emprego e nem trabalhando. Na comparação com o trimestre terminado em outubro, houve alta de 1,3%, o que equivale a um contingente de 873 mil pessoas.
O aumento da inatividade é comum em meses de janeiro, em função das férias escolares, mas foi a maior expansão já registrada para trimestres encerrados em janeiro, segundo o IBGE. Com isso, o total de pessoas fora da força de trabalho chegou a 65,733 milhões – patamar recorde desde o início da pesquisa, no primeiro trimestre de 2012. Há 1 ano, eram 65,277 milhões. Informalidade ainda atinge 40,7% da população ocupada.   A taxa de informalidade recuou de 41,2% no trimestre de agosto a outubro de 2019 para 40,7% no trimestre encerrado em janeiro, representando um total de 38,3 milhões de trabalhadores informais.
É o país jogando pro alto seus mais preciosos recursos, os humanos.
Fevereiro 2020

segunda-feira, 2 de março de 2020

Doping financeiro no Futebol (cont)




Dou-me conta, por acaso, que o Flamengo está jogando sempre no Maracanã. É uma vantagem esportiva muito grande e expressa o momento do futebol carioca onde um time tem dinheiro vazando e nunca teve escrúpulos de os aplicar em benefício das conquistas (por isso duvidosas) do clube.   O clube já tem uma história de eventos questionáveis (expulsões de jogadores do Atlético Mineiro em 1981, dirigente encontrado com uma mala de dinheiro em véspera de clássico, compra forçada de jogadores de times de confronto direto etc.). No recente campeonato não parece difícil convencer os times pequenos a transferir seus direitos de mando de campo para jogar no Maracanã. E olha que é fácil entender como se torna importante para seus jogadores atuar no Maraca, mas os resultados esportivos ferem não apenas interesses do time pequeno, mas de todo o torneio, desvirtuado-o em seu eventual equilíbrio.  O “Doping Financeiro no Futebol” já está sendo um problema na Europa, mas vai ainda tardar a incomodar por aqui, onde diretorias dos times grandes já entram com heranças malditas de administrações anteriores e não conseguem superar o desastre financeiro. Então vemos as vitórias óbvias, que a mídia, também comprada, trata de engrandecer. Mas alguns de nós, que estudamos e trabalhamos com esse esporte não somos tontos. Um dia chegará, de condenar essas atitudes antidesportivas flagrantes.
“Torcedores do Bayern estenderam uma faixa na arquibancada com um palavrão dirigido a Hopp, que fez fortuna com uma empresa de software e há anos começou a investir no Hoffenheim, levando o time da sexta à primeira divisão. Os aportes milionários testaram os limites das normas da Federação Alemã — conhecida por seu rigor na administração financeira, que inclui regras como a participação obrigatória de torcedores no corpo de acionistas.
À primeira vista seria, então, uma resposta de torcedores raiz à entrada de dinheiro do mundo corporativo no futebol, causando desequilíbrio esportivo. O Red Bull Leipzig tem sido alvo de protestos semelhantes. Paris-Saint Germain e Manchester City, que enriqueceram depois de ser adotados por xeiques árabes, também são questionados, e não só pelas torcidas rivais — o City acaba de ser suspenso pela UEFA das competições europeias”.  O Globo \ coluna do Marcelo Barreto
Isso explica também em parte o suposto conflito com a parceira Rede Globo sobre transmissões dos jogos do campeonato carioca. O Flamengo está consolidando um programa de torcedores para os sábados à tarde no maracanã. O Campeonato Carioca não interessa a nenhum dos dois, virou coisa menor, exceto no dia de levantar a taça (no Maracanã, claro).