Esta manhã eu despertei talvez
movido pelos raios de sol que passavam pelas frestas da janela, que mantenho
semiabertas, nunca tolhidas pelas detestáveis cortinas blackout. Antes as
janelas podiam ficar abertas e ouvíamos os marulhos das ondas do mar, agora os
mosquitos da urbanização desenfreada traz os mosquitos e suas consequências.
Despertei em harmonia com os tons de uma manhã outonal, meio clara, meio escura,
indecisa. Antes de me dispor a sair da cama, quase sempre estimulado pela ideia
do café com acompanhamentos convencionais (pão com manteiga, e às vezes bolo de
laranja, biscoitos doces, mingau de milho...), tenho o hábito de meditar sobre
o dia que terei pela frente.
Logo
a imagem da praia se impôs, hora de rever os amigos que trabalham toda a semana
e têm apenas sábados e domingos para o encontro tribal. Eu e alguns poucos
amigos da praia de todo dia nos juntamos para o prazer mais ampliado. Pensei no
prazer de cumprimentar e conhecer as novidades da semana, aquela coisa da
conversa mole de passar o tempo. Este verão não foi igual a todos os verões
passados, ele não teve quase nada de verão, parece que tivemos um verão
outonal. Nossa turma, que já tem cerca de 20 anos com poucas recomposições, foi
duramente castigada pela introdução do beach tennis, que segurou boa parte do grupo nas quadras distantes da beira-mar.
À
tarde deste domingo eu veria uma partida de futebol, mesmo sabendo que a Rede
transmitiria algum jogo do Flamengo, mas eu tenho o pay per view e
poderia escolher algum jogo normal. À
noite eu poderia ver algum filme no cineminha de bairro aqui de Ipanema, que em
geral passa obras alternativas, menos hollywoodianas.
Então
me preparei para sair da cama. Antes de
completar esse movimento me dei conta que estou de quarentena. Bateu a
consciência e a triste realidade me abraçou, com a memória de uma semana inteira
e intensa já sofrida com as interdições, as ameaças e revelações assustadoras
de um mundo que se mostra um enorme fracasso de modelo civilizatório (sic)
assumido no planeta. Estamos por aqui
afundados numa mistura de realityshowdavida, entre um Big Brother e um
Fantástico.
Virei
pro lado direito, respirei fundo e me concentrei em trazer de volta algum
restinho de sono que me confortasse nesse dia que não sei mais qual é nem que
hora vai realmente começar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário