sexta-feira, 8 de maio de 2020

Pandemia e Pandemônio




Votei na saída do PT, defendo a alternância no poder, sou contra reeleição, desconfio de urna eletrônica. Não tenho filiação partidária, até hoje, com 83 anos, nunca tive um governo que pudesse chamar de meu. Fui Secretário Nacional do Trabalho no governo FHC mas isso não me obrigava à política do presidente e fiz o que pude para dar à minha Secretaria uma função de Estado não de governo. Colaborei com Dona Ruth na política social e fiz abertura com Centrais Sindicais sem olhar a cor partidária, trabalhei muito próximo da CUT sem que fosse censurado. Minha posição profissional sempre foi de independência. Se hoje critico mais uma vez o governo de ocasião é porque mais uma vez não me espelho no que observo. Esperava um governo que trabalhasse para unir os brasileiros num programa de desenvolvimento com promoção da redução da desigualdade de renda, promovesse o emprego e a pequena empresa. Que tivesse um programa revolucionário para a educação, a saúde e a cultura, num país de extrema riqueza ambiental e significativa diversidade cultural.
Diante da pandemia que agora enfrentamos, esperava que o governo estaria lutando em todas as fronteiras para promover a solidariedade, a proteção dos pobres e informais e necessariamente o sistema de saúde estaria em melhores condições para dar as respostas certas, com leitos, equipamentos e recursos humanos apropriados.
Tudo isso passa longe do governo atual. Não vejo nem mesmo sensibilidade humana,  muito menos eficiência e esforço. O ministro da saúde ainda não pisou no solo, continua falando de regras

Estamos vivendo um pandemônio e não apenas uma pandemia. O presidente pratica diariamente a desobediência civil contra si mesmo e seu governo. E as instituições políticas que nos pareciam robustas se mostram esgarçadas, estressadas e fragilizadas pelos métodos bolsonarianos de conflito e pela pandemia pandemonizada. Os ministros escolhidos pelo governo, pressupostos técnicos, com raras exceções, são pessoas inexpressivas politicamente, bizarras e capazes de afirmar absurdos contra a ciência e o senso comum. E as promessas de campanha já não contam, o toma á dá cá já entrou em cena. Na verdade, pouca coisa restou da campanha que não houve. Uma facada absurda (onde estavam os seguranças?) e uma pandemia inesperada alimentam e explicam boa parte do que estamos vivendo (sic). Estamos isolados do mundo, com o Itamarati inexpressivo e equivocado nas escolhas, como mostra a falta de ajudas externas aos nossos problemas sanitários. Mesmo o “parceiro” norte-americano o que nos fez até agora foi bloquear uma suposta carga vinda da China. Mesmo países governados ostensivamente por governos de direita estão praticando o distanciamento social e sendo liderados por seus comandos políticos, ao contrário daqui. Com que estamos passando acho que nem Deus é brasileiro, como prega a cultura popular.
Com exceção das atividades essenciais, não há como explicar o liberou geral que o governo estimula através do presidente que diz atender a pressões de industriais, que ele ouve, enquanto não escuta o grito dos hospitais.   Até Guedes, um liberal à antiga, aceita isolamento social e aceita abrir pedaços do cofre ao lado social da vida, que o governo ignora.
Vivemos um pandemônio, mais que uma pandemia     
O governo atual fica cada vez mais parecido com o anterior, só que não existe ninguém parecido nem de longe com o capitão. Ele é imparável e faz escolhas internacionais já conhecidas como do circuito extremista de direita, com visão retrógrada do mundo e algumas interpretações absurdas mesmo à escola secundária. E utiliza os mesmos recursos promovido pelo Sr. Bannon com robots internéticos e recurso de manada, que só agora estão sendo investigados. E podem falar qualquer coisa que lhes ajude nos propósitos programáticos, sem compromisso com a verdade ou a lógica. Essa cartilha é aplicada por todos os personagens dessa obscura linha de política. Os países, já se sabe: Israel, Inglaterra; Itália, Hungria, Estados Unidos e Brasil, entre alguns poucos outros e em diferentes graus. Todos são contra coletividades, comunidades e organismos internacionais, sobretudo a Comunidade Econômica.
Sobre a questão econômica vale entender:  O setor financeiro está funcionando internamente no essencial, a parte menos importante é a visível; Algumas indústrias mais desenvolvidas estão dando a seus funcionários condições de segurança e estão funcionando; os restaurantes estão melhorando a capacidade de delívery, que já é um investimento para o futuro; As  atividades essenciais para segurança, alimentação e saúde estão em atividade com os cuidados disponíveis (que é verdade, são frágeis e inadequados). O setor moderno da economia está funcionando em home-office. O comércio regular é o mais sacrificado e o imenso setor informal. Para esses em todo o mundo os governos estão assegurando recursos mínimos e é para isso que existem os governos, não é nada extraordinário e os governos vão recuperar no tempo. No caso do Brasil a criminosa e inacreditável pobreza já é atendida (mal atendida) antes da pandemia, essa gente já vive numa pandemia normal de vida.
Então eu pergunto: se estão atendendo os mais necessitados, porque precisam colocá-los na rua antes da hora e de preparar os hospitais regulares e hospitais de campanha em condições para receber a população que vai precisar, pelas deficiências normais da vida e pela natureza vital do vírus.


sábado, 18 de abril de 2020

De Como Aprendi a Amar o Vírus


             por JCA

Já muito se tem falado sobre o novo vírus que se desprendeu da China e inunda o mundo de forma inesperada, embora previsível. Agora que o fato se instala, vemos em diferentes fontes que não faltaram advertências sobre essa possibilidade.
Fato: missão americana para fiscalizar encomenda feita pelos Estados Unidos a um laboratório na China, não sabemos com que proposito, constatou que havia falhas de segurança e recomendou medidas corretivas. Nada foi feito de ambas as partes.
Essa mania chinesa e de outros povos orientais de pesquisar e até se alimentar de bichos estranhos a nossa cultura tem sido visto com curiosidade, mas sem seriedade. Não é a primeira epidemia brotada dessa prática. E parece que não será a última.
A guerrinha entre as duas potências mundiais não teria importância não fossem as repercussões para o resto do planeta. O egocentrismo de ambas é inaceitável, mas não podemos fazer nada a respeito.  As grosseiras falhas e vícios do capitalismo de livre mercado levaram por concorrência desleal e oportunismo empresarial a essa distorção absurda de concentrar a riqueza comercial nas mãos da China.  O preço que estamos todos pagando neste momento é infernal, com enorme custo de vidas em todas as partes.  A responsabilidade da China pelo desastre é inquestionável, mas a quantidade de acumpliciamentos deixa um rastro profundo no resto do mundo.
Infelizmente a culpa tem sido jogada na democracia e nas liberdades democráticas, inclusive nas formas políticas de representação. Acusação infundada, claro, o mal não está no sistema, que não tem substitutos melhores, mas na vigência de dois vícios poderosos: os economistas liberais e neoliberais, e a vida política das nações, ocupada por estamentos familiares e cultura destorcida do conceito da coisa pública.  A sociedade democrática é por definição uma instituição frágil, que depende de consensos difíceis de lograr, o que abre espaços para oportunismos autoritários e viciosos.  Mas não existe um sistema melhor no mercado do desenvolvimento humano e do processo civilizatório.
Na verdade, a democracia foi violentada pela globalização desenfreada e mal interpretada que abriu mercados para os mais poderosos que dividiram o mundo a seus interesses distribuindo funções secundárias para países fornecedores de matérias primas e importadores de produtos industrializados. Em nome dessa globalização imposta de cima para baixo, países menos fortes politicamente se voltaram para explorar e destruir seus bens naturais de valor econômico episódico e abdicaram de economias substantivas, robustas e sustentáveis, que poderiam gerar empregos saudáveis e uma vida humana mais confortável e qualificada e se tornaram subsidiários do mundo globalizado  a sua revelia. A riqueza produzida por esse modelo foi concentrada em meia dúzia de nações e numa classe de empresas multinacionais, donas das transformações científicas e tecnológicas. O que as novas tecnologias puderam gerar em riquezas foi concentrado como nunca antes nas mãos de entidades institucionais superpoderosas, acima dos países e das organizações internacionais coletivas.
Com objetivos puramente explorativos, dominadores e imediatistas, essas entidades sabotaram quaisquer esforços dirigidos à conservação do planeta Terra.  E criaram uma ideologia à sua feição que faz do individualismo e do livre arbítrio recursos espertos de argumentação distorcida dos próprios conceitos. Como em toda ideologia os prejudicados são seduzidos por astutas armações que fazem parecer seus interesses coincidentes com os verdadeiros interesses das entidades poderosas, quando devia ser o contrário.
A China se aproveitou das crenças equivocadas na liberdade de comércio e de transações e entrou de sola no mercado mundial violentando todas as regras de direitos trabalhistas e concorrência internacional. Usou seu momento histórico de inauguração de novo modelo político rompido com o maoísmo e voltado para as oportunidades de crescimento internacional, considerando suas dimensões continentais e sua cultura acostumada à obediência ancestral.  Os organismos internacionais foram apanhados de surpresa e não souberam como reagir às violações de regras recém forjadas na implantação de sua novidade encantada do neoliberalismo. Como podiam condenar a China se defendiam a liberdade total de mercado? Os limites disso estavam e ainda estão indefinidos. No começo os produtos chineses eram mal vistos e por isso tolerados, mas aos poucos foram convencendo aos consumidores menos exigentes e de menor poder de compra. Logo foram subindo de patamar e hoje são dominantes em todos os sentidos. Mesmo Trump cedo se deu conta que seu país estava nas mãos da China e suas empresas e empregos haviam migrado para o oriente. Não estavam perdendo apenas no sentido econômico, mas na soberania.
Se assim estão os Estados Unidos, que diremos do resto do mundo?  A concorrência desleal, obtida pelos baixos custos de produção, onde os baixos salários e as reduzidas condições de trabalho contavam, forçou países que tinham economias equilibradas e podiam pagar bons salários e manter sistemas de saúde e previdência qualificados, a começar a desmontar suas instituições sociais e o bom trato da coisa pública. Sobretudo entre os países europeus, que eram exemplos de boa administração e sistemas sociais civilizados.
O mundo capitalista, concentrador de riquezas e explorador do trabalho se alegrou com as primeiras experiências de embarcar justificadamente na redução de benefícios de seus trabalhadores, mas logo se viram numa condição subalterna insustentável porque o modelo de exploração e geração de renda estava fazendo água.  Foi o que estávamos enfrentando como crise econômica e financeira até há pouco tempo.
Não preciso replicar como um surto, mal entendido, foi se transformando numa epidemia e logo nessa onda apocalíptica que está arrasando o lado de cá, o lado estritamente capitalista do mundo.
O vírus em si é uma pérola, tem uma falsa debilidade, envolto numa frágil esfera de gordurinha, indefeso, modesto. Mas se colocado frente a nossas defesas já gastas pela idade ou pelos maus costumes e má distribuição de renda, se deixa penetrar pelas células de nosso corpo e nesse ambiente se fortalece e se multiplica de forma voraz.
Ele é perfeito porque é dificilmente identificado e visível, não tem  um tempo certo de vida, se agarra a qualquer superfície, pode ficar um tempo no ar depois de um espirro ou mesmo uma respiração mais forte, não apresenta sintomas nos primeiros dias mas já é contagioso, o que obriga a um esforço notável de prevenção, um gasto de energia às cegas, e se mostra com um poder letal avassalador. Ele é superior a seus coleguinhas já habituais em nosso convívio desnaturado.
Ele é fortemente darwiniano, atinge mais os menos aventurados, de saúde precária ou de desgaste físico pelo tempo de vida. Um sacana de merda que permite a proteção dos mais ricos e mais bem alimentados.
E por ser perfeito em suas intenções e destinações, ele não pode ser um produto da natureza. Apesar da lenda de perfeição, a natureza é imperfeita, ela se deixa tocar decisivamente pelo ser humano, ela depende de condições atmosféricas e ambientais e seus elementos estão sempre em conflito, morrendo e renascendo. Só em laboratório se pode criar um objeto com tamanha competência. A corrente científica tem atestado que não parece criação de laboratório, mas não tem certezas e não quer depreciar o trabalho de pesquisa, que, é verdade, faz mais bem do que mal à humanidade.
Estamos todos ou quase todos de quarentena, mas cada quarentena é uma quarentena. Muitos estão em suas ilhas paradisíacas, nos seus sítios e fazendas esperando a praga passar. Muitos contam com recursos técnicos e médicos de qualidade à disposição para se acaso, Muitos outros estão amontoados em pequenos ambientes mal preparados e mal cuidados. Muitos estão obrigados a trabalhar por dever de ofício ou ameaça de dispensa. Há todo tipo de quarentena ou meia quarentena. Não por culpa do vírus, mas dos que se descuidaram dele na China. E de nossos governantes de todos os tempos que nunca ofereceram à população uma qualidade de vida sustentável.
Propor critérios de escolha de quem vai morrer quando os recursos técnicos são limitados tem mostrado a ideologia corrente, mesmo entre os médicos que juraram perante Hipócrates defender a vida. Eu não vejo outro critério senão a ordem de chegada. A não ser em última instância quando a medicina já sabe que não tem saída e apenas pode fazer o que costuma fazer nos hospitais particulares, ficar ganhando tempo e dinheiro. Fora disto deve valer a precedência. No caso brasileiro, onde a igreja impediu políticas saudáveis de conscientização, proliferam os jovens sem amparo familiar e jogados à falta de oportunidades de trabalho, que vão custar muito mais caro à sociedade nos critérios frios da economia, enquanto os idosos estão cobrando o que pagaram em impostos e contribuições  durante uma vida, do tempo que havia emprego  e sistema de previdência razoavelmente financiados.  Não pode haver escolha da inspiração darwiniana.
Nem vou discutir a necessidade, por falta de recursos técnicos, do distanciamento social e do isolamento, tão desumanos, mas sem alternativas, exceto para super-homens como o capitão presidente (que por dever moral de seu cargo público, tinha de divulgar o resultado de seu teste, embora certamente fosse gerar mais discussões sobre a credibilidade do resultado).
Quanto ao futuro, existe um amplo leque de crenças e expectativas, mas tudo depende de nossa visão mais otimista ou pessimista do que pode o ser humano.
Por fim eu penso em quem vai me devolver o outono carioca, a época mais linda da cidade, com seu clima ameno, suas festas juninas, suas praias menos cheias, seu por de sol confortado, sua música contagiante, suas tribos, sua diversidade, sua alegria?


quinta-feira, 26 de março de 2020

Negócio da China





Pode ser que a China não tenha culpa, culpa envolve intencionalidade.  Mas certamente é responsável pela origem e extensão da peste que nos assola a quase o mundo inteiro. Podia até ser considerada a primeira e verdadeira guerra mundial, pela amplitude que tomou (o que chamamos guerras mundiais implica um preconceito, pois era coisa entre as potências da época, os demais entraram de gaiatos). No meu tempo de criança um “negócio da China” significava um muito bom negócio, possivelmente ligado ao lucro com a comercialização da seda que fazia o encanto das mocinhas mais ricas e enriqueciam os mercadores em todo o mundo, por aqui os cacheiros viajantes.  Eram realmente lindas as estampas, o tato e até o cheiro eram inebriantes.  Teve ainda a pólvora, descoberta por acaso, mas também muito apreciada mundo afora. A China é um universo deslumbrante e sempre nos seduziu para o bem ou para o mal.  Tempos atrás o produto da China era precário, coisa barata que os mais ricos rejeitavam, embora fizesse a festa da periferia. No mundo do trabalho fez uma razia, explorando operários em condições aviltantes de trabalho. Mesmo os autos, que copiavam modelos ocidentais, eram depreciados. Não sei a ginástica que deve ter feito a OIT (Organização Internacional do Trabalho) para engolir os abusos do negócio chinês. Da China de hoje não preciso de ocupar, está em todas as mídias diariamente e avassaladoramente nas transações internacionais. 
Por enquanto o que nos cabe é conseguir ajuda da China para vencer o desafio da peste. Mas acharia justo buscar adiante uma compensação pelos danos vitais, materiais e morais que sua negligência ou incompetência em gerar ou frear a peste está causando ao mundo. Isso não é omitir que parte do que sofremos é resultado de anos de sacanagem dos nossos governantes, que esbanjam nosso dinheiro (maiormente vindos de impostos) em corrupção, incompetência e burrice administrativa, sem falar de ideologias desviantes dos verdadeiros caminhos civilizatórios que a sociedade precisa trilhar. Nossos governantes também deviam nos pagar de seus bolsos, seguramente recheados imoralmente pelos danos que nos causam. Vocês acham que vão aprender com a experiência do drama atual?

quarta-feira, 25 de março de 2020

Tristes Tempos de Pandemia



Amigos e amigas de 60 anos pra cima. Além do corona, temos outros inimigos que se mostram cada vez mais demonstrativos. É um problema ideológico. Não me estranha, mas não deixa de chocar o alinhamento dos discursos de Trump e Bolsonaro. A leitura para bom entendedor é simples: Não vale a pena sacrificar a vida e a economia do país por um problema que afinal só vai atingir mais duramente os idosos menos saudáveis. Isso tem um nome na história: eugenia, limpeza étnica, racial ou geracional. Simples assim. Uma pena.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Laranja Mecânica




Para os aposentados (e aposentadas) a ocupação domiciliar já faz parte da vida cotidiana. Mas quando se faz obrigatória ela toma um sentido inédito creio que pela falta dos complementos (a ida à praia, ao bar, à galeria, ao cinema...). Fora o risco tentador de discutir as relações, felizmente já formatadas pela memória fraca. Mas o que era habitual ganha outra vestimenta quando se torna obrigatória. Então me permitam sugerir um programa de revisitar os filmes antigos que deixaram grandes lembranças em nossa memória. Um bom filme deve ser visto muitas vezes e garanto que terá coisas novas em cada visita. Ontem à tarde, por sugestão do Lucas, meu filho cineasta, reencontrei-me com Laranja Mecânica, a obra-prima de Kubrick. E ganhei de presente o livro em edição especial dos 50 anos, que é um primor (atenção professor André e primo Luciano). Penetrar nas entranhas da construção da história por Anthony Burgess e depois confrontar a versão cinematográfica de Kubrick, é um grande deleite, que recomendo fortemente. Na ausência do livro, o Google pode dar algumas pistas dessa interação. O tema, o livro e o filme não envelheceram.

Realityshowdavida





Esta manhã eu despertei talvez movido pelos raios de sol que passavam pelas frestas da janela, que mantenho semiabertas, nunca tolhidas pelas detestáveis cortinas blackout. Antes as janelas podiam ficar abertas e ouvíamos os marulhos das ondas do mar, agora os mosquitos da urbanização desenfreada traz os mosquitos e suas consequências. Despertei em harmonia com os tons de uma manhã outonal, meio clara, meio escura, indecisa. Antes de me dispor a sair da cama, quase sempre estimulado pela ideia do café com acompanhamentos convencionais (pão com manteiga, e às vezes bolo de laranja, biscoitos doces, mingau de milho...), tenho o hábito de meditar sobre o dia que terei pela frente.
Logo a imagem da praia se impôs, hora de rever os amigos que trabalham toda a semana e têm apenas sábados e domingos para o encontro tribal. Eu e alguns poucos amigos da praia de todo dia nos juntamos para o prazer mais ampliado. Pensei no prazer de cumprimentar e conhecer as novidades da semana, aquela coisa da conversa mole de passar o tempo. Este verão não foi igual a todos os verões passados, ele não teve quase nada de verão, parece que tivemos um verão outonal. Nossa turma, que já tem cerca de 20 anos com poucas recomposições, foi duramente castigada pela introdução do beach tennis, que segurou boa parte do grupo nas quadras distantes da beira-mar.                                                                                                                                  
À tarde deste domingo eu veria uma partida de futebol, mesmo sabendo que a Rede transmitiria algum jogo do Flamengo, mas eu tenho o pay per view e poderia escolher algum jogo normal.   À noite eu poderia ver algum filme no cineminha de bairro aqui de Ipanema, que em geral passa obras alternativas, menos hollywoodianas.
Então me preparei para sair da cama.  Antes de completar esse movimento me dei conta que estou de quarentena. Bateu a consciência e a triste realidade me abraçou, com a memória de uma semana inteira e intensa já sofrida com as interdições, as ameaças e revelações assustadoras de um mundo que se mostra um enorme fracasso de modelo civilizatório (sic) assumido no planeta. Estamos por aqui afundados numa mistura de realityshowdavida, entre um Big Brother e um Fantástico.
Virei pro lado direito, respirei fundo e me concentrei em trazer de volta algum restinho de sono que me confortasse nesse dia que não sei mais qual é nem que hora vai realmente começar.


domingo, 15 de março de 2020

Mais uma obra prima de Ken Loach




Martha Medeiros não é nenhum gênio literário, mas dá conta de sua coluna do cotidiano das relações sociais. E gosta de cinema. Ela hoje recomenda um filme de Ken Loach, “Você Não Estava Aqui” que a deixou angustiada. Ken Loach é o diretor do também premiado “Eu, Daniel Blake” que tratava do isolamento de idosos que não conseguem se encaixar na sociedade informatizada.  “Desta vez, Loach mostra as consequências da informalidade e do trabalho autônomo como única opção. Nada de férias remuneradas, seguro-saúde, seguro-desemprego, aposentadoria. É pegar ou largar”. A pequena empresa é uma tradição da Europa e foi criticada politicamente por MARX como atividade de pequenos burgueses não revolucionários.  Na sociedade contemporânea, em que as revoluções sociais minguaram, o papel das classes médias se tornou relevante. E a venda da ideia de micro e médio -- empreendedores não chega pela tradição, mas como um sonho de remédio pela falta de empregos. Martha captou bem o desastre: “O que mais deprime é que o filme não parece ficção, e sim um documentário sobre a atualidade. Empreender é uma opção quando se tem suporte, reservas, uma boa rede de contatos. Para quem está sempre começando do zero, é uma ilusão. Você não pode adoecer. Não pode envelhecer. Não pode viver — só trabalhar”.  Infelizmente os governos alimentam essa ilusão e deixam que se danem os brasileiros que colocam seus parcos recursos em risco e se ferram em geral. Para quem tem interesse no tema, o filme é um bom programa.

A Torcida do Flamengo Viralizou





Lamento ter de insistir no tema, mas considero obrigatório, até mesmo pela falta de argumentos contrários dos que são indiciados na narrativa. A Rede Globo apontou no que viu e criou o que não viu. A torcida do Flamengo, ao contrário de todas as demais, no país e talvez no mundo, se transformou numa espécie de torcida organizada toda ela. Nos clubes você tem um grupo menor seletivo que trabalha mais diretamente as demonstrações de fidelidade.  Essa torcida organizada é reconhecida como fanática, que não se importa com o adversário, tomado como inimigo, ela quer é estar junto de sua equipe para o que der e vier, levar sua dedicação. Geralmente a administração do clube financia ou facilita a circulação dessa torcida. No mundo inteiro os exemplos de comportamento desses grupos não são nada exemplares. Tirando, pelo menos por enquanto esse aspecto de violência, no demais a torcida do Flamengo se compota como uma torcida organizada toda ela.  Nenhum clube, talvez em todo o mundo, tem sua camisa esportiva usada amplamente do cotidiano, no trabalho, na festa, e até nos templos. Nenhuma torcida geral vai ao estádio sem saber, muito frequentemente, quem é o adversário. Não se importam se uma vitória é obtida irregularmente e há os que até festejam, por exemplo, um gol em impedimento ou com a mão. Ela não discute esportivamente o resultado de um jogo, uma disputa, ela quer a derrota do inimigo. Quer sair festejando do estádio.  Os três clubes grandes do Rio estão no buraco, não pode ser coincidência, enquanto sobra dinheiro nos cofres do Flamengo e ele confortavelmente eleva os preços do mercado, piorando a situação dos demais. E o Flamengo, assim como tratou comercialmente o desastre com sua garotada no ninho do urubu, sem carinho, sem sentimento ostensivo, também não se importa com a situação dos clubes irmãos. Não há a mínima solidariedade. E não lhe importa se esses clubes vão à lona, se são rebaixados, porque como dissemos antes, a torcida não se importa com grandes espetáculos, se conforma com vitórias falsamente engrandecidas pela mídia que o próprio Flamengo cada vez mais domina. Assim como já ocupa o conselho de arbitragem onde o encarregado vem das hostes de seu parceiro e seguramente será pelo menos simpático com os times da casa, já vem demonstrando como suas armas já alcançam instâncias regionais. Com o dinheiro que tem pode praticar o na Europa começam a questionar (por aqui vai demorar muito ainda), o doping financeiro. O Flamengo, com o dinheiro que tem nas mãos é um risco para o fair-play esportivo no país.
Uma parte da mídia tem ponderado, comedidamente, sobre as questões que trato de encaminhar há bastante tempo.  Um dos temas é o problema das famílias que perdem seus filhos e rompem tradições clubistas de gerações. Famílias dos rivais ensinam seus filhos a resistir à febre rubro-negra
Tatiana Furtado    01/12/2019 – O Globo
Pais criam estratégias para não perderem os pequenos na boa fase do Flamengo; zoações na escola podem influenciar.
Na casa do músico e professor de história Carlos Eduardo Valdez, 34 anos, não se canta “Parabéns pra você”. O hino do Vasco é que dá o tom das comemorações. É assim que ele espera passar o amor ao clube, que já perdura na família há gerações, para o filho Benício de 4 anos.
O momento do Flamengo e as “más influências” na escola e entre parentes próximos geram certo temor de perder o pequeno torcedor para o rival. Mas pais e mães têm suas estratégias para impedir que a atual avalanche rubro-negra interfira nesse vínculo.
O pai utiliza algumas táticas. Ele faz a sua parte vestindo o menino dos pés à cabeça nas cores do clube de coração. Ou associando os gols vascaínos a momentos divertidos.  Mas diz ter argumentos caso precise de uma leve chantagem emocional:
— Damos ao filho uma educação social e procuro utilizar a história do clube, a luta contra o preconceito, de ter preferido ser rebaixado a tirar os negros do time.
Família é decisiva
Um dia um garoto de 10 anos, deixou escapar que torce pelo rubro-negro, quando o Fluminense não joga e só tem partida do Flamengo na TV. O pai, que faz de tudo para os três filhos não escaparem do destino tricolor, se assustou. Diante da surpresa do pai, o filho tentou amenizar, afirmando que é tricolor de coração e nada vai mudar.  O pai explica que o torcedor de verdade se mostra quando o clube está em baixa — conta o gestor de novos negócios, que faz um escudo contra as investidas de um seu irmão rubro-negro.
Os títulos do Flamengo também ecoam na hora do recreio nas escolas. Os torcedores dos rivais sabem que ouvirão piadas sobre a situação dos seus times no momento em que o sinal tocar. E isso, claro, pode fazer as crianças duvidarem das escolhas familiares.

“Felipe cresceu em Santa Catarina, Daniel na Bahia, ambos bem longe dos estádios onde as partidas de seus clubes do coração jogam. Aprenderam a amar o Flamengo e o São Paulo assistindo às partidas desses times pela televisão.”  (Recorte de texto de colunista esportivo do Globo)

Não estranha, nesse cenário, que a torcida do Flamengo não aceite o fato comprovado de que a televisão foi o fator decisivo para o crescimento rubro-negro no país e hoje no mundo.
Trabalhei 20 anos na televisão em filmagens de futebol, viajei com a seleção de 58 e com vários clubes em excursões longas à Região latino-americana e caribenha, como era habitual nos anos 60. Sei, por isso, o que é uma transmissão tradicional e o que é uma transmissão da Rede Globo com o Flamengo, nada parecido. A transmissão de jogos de seu parceiro de longa data (1979) recebem um tratamento de show, como Faustão e Fantástico. A torcida é focalizada de perto, quase entra em campo, a emissora mantém um diálogo quase familiar com a torcida e a narração é vibrante. Um joguinho de nada vira uma atração da Globo com bons índices de audiência, reforçados pelas “chamadas” insistentes.
Recentemente a Rede e o parceiro não se entenderam sobre uma pequena parcela do acordo multitudinal e totalitário. A torcida logo aproveitou para afirmar que a equação era inversa, a Globo que explorou o Flamengo.  Nada verdadeiro, o acordo, como em geral, era de benefícios mútuos, claro. O que está acontecendo é fácil de explicar: os campeonatos regionais são fenômenos regionais e a Rede explora regionalmente. Não tem assim muito interesse. E para o Flamengo era a oportunidade de criar e explorar o show do Maracanã (Outra demonstração de força do Flamengo ao receber arbitrariamente o grande estádio, um marco da cidade e de todas as torcidas para ser “o seu estádio”. O Fluminense é uma forma de dizer que não foi um benefício só do Flamengo, mas o Fluminense entra aí como convidado de pedra, não manda nada). Com o coronavirus e a impossibilidade de encher o Maraca, claro que Globo e Flamengo vão rever o falso problema.
Além da consolidação do estádio o Flamengo está testando outas mídias como o FLA-TV e algumas redes especiais.  Dinheiro não falta.
A torcida, agora no céu se multiplica como virose, aproveitando a baixa dos demais clubes e a disponibilidade de taças secundárias regionais que a mídia parceira enfeita como grandes conquistas.  Existe ainda uma estratégia a ser melhor conhecida, por enquanto só posso levantar como possibilidade: as transmissões de Botafogo, Fluminense e Vasco geralmente iam para alguns estados, dividindo com o Corinthians e o São Paulo para transmissões nacionais enquanto o Flamengo tinha transmissões nacionais. Não estranha depois de 30 anos que o Flamengo tenha torcedor onde chega uma antena da Globo.
Uma palavrinha sobre o perfil da torcida do Flamengo: ela hoje é totalmente inclusiva, do mendigo da esquina ao investidor no mercado de capitais, passando pelo pessoal da justiça e do sistema financeiro público. Veja o perfil de seus dirigentes. Houve um crescimento explosivo, por falta de outras expressões de mesmo porte e o momento do país, com poucas alternativas de vulto. Frustrações amplificadas. É marcante de Ronaldinho Gaúcho recolhido numa prisão no Paraguai, deu autógrafo numa camisa do Flamengo, vestida por um coleguinha também preso.
Vejam também o tratamento que recebe o Vasco de uma estatal como a Caixa. O Clube tem um dinheiro a receber, mas está submetido a exigências burocráticas legais que algum dirigente da estatal (não duvido que seja um flamenguista) está segurando, mesmo contrariando um princípio legal que dá preferência a pagamento de pensão alimentícia e salários. O Vasco tem dinheiro a receber e muita dívida salarial, mas o recurso não sai.  Apostaria na diferença se se tratasse do Flamengo.
Feitas essas reservas, vamos reconhecer a dimensão que tomou tudo isso. O Flamengo tem “consulados” e até “embaixadas” em países estrangeiros, formados em grande parte por brasileiros no exterior e por estrangeiros que admiram o que a Rede Globo internacional mostra há anos. Mudar o que está feito é impossível com o poder acumulado e a falta de vontade do Clube da Gávea (que antes tinha uma sede para os negros e pobres na Praia do Flamengo e uma sede rica na Gávea, onde fazia um dos bailes de mais luxo do carnaval carioca, o Vermelho e Preto).
Fica claro que a proteção ao Flamengo custou perdas aos demais clubes, o jogo é de soma zero.  Mas buscar solidariedade dos dirigentes e da torcida do Flamengo não daria mais do que naquilo que os estudiosos chamam de imunização cognitiva, no âmbito da neurociência. Incrível que nesse grupo, às vezes, se encontram pessoas de alto nível intelectual. Cognitiva vem de cognição, que é o processo de aquisição do conhecimento, incluindo o pensar, a reflexão, a imaginação, a atenção, o raciocínio, a memória, o juízo, o discurso, a percepção visual e auditiva, a aprendizagem, a consciência, as emoções. Envolve os processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo. A imunização cognitiva é um escudo que permite que as pessoas se agarrem a valores e credos, mesmo que fatos objetivos demonstrem que eles não correspondem à verdade. A pessoa cognitivamente imunizada está no terreno da fé, que dispensa o raciocínio lógico. Para ela, argumentos lógicos não têm relevância. O Flamengo não vê que todos lucrariam se houvesse uma repartição menos diferenciada dos dinheiros de transmissão da única e maior rede nacional de televisão?
O Flamengo se transformou em time de massa por acaso e circunstâncias, não por objetivo e aspirações. A mesma elite associada ao Fluminense rachou por desentendimentos de escalação do time e partiu para a criação de uma versão independente. Os fundadores pertenciam à mesma elite do Fluminense. Como não tinha estádio ficou mais exposto e evidência dos moradores da Zona Sul da Capital.   E como se opunham ao time das elites, não por razões de classe, obviamente, talvez tenha sido entendido como adversário do time das elites. As cores fortes da camisa (houve várias tentativas até chegar à base do modelo atual) e ações mais agressivas do grupo, que enfrentava a falta de estádio e de recursos e tinha de começar do começo, tornou-se simpático a uma torcida emergente da Zona Sul. Até hoje o Flamengo é o time da classe média alta, dos profissionais liberais, dos empregados públicos de maior hierarquia, e, claro, mais recentemente estendido pelas campanhas da Globo desde 1979  (procurem as estatísticas de conquistas  de antes dessa data e depois dela) a todas as parcelas da população cobertas pela Rede.


quinta-feira, 12 de março de 2020

Credibilidade Viciosa da Mídia




Pesquisa realizada nos Estados Unidos:
Um primeiro resultado da pesquisa mostrou que os professores – assim como acontece com o restante da população, independente da profissão ou grau de escolaridade – também são impactados pelo viés de confirmação, ou seja, a pré-disposição em dar credibilidade a notícias que confirmam nossos pontos de vistas prévios, e a descartar aquelas que contrariam nossas crenças pré-concebidas, independente da qualidade da informação. Docentes que se declaravam como conservadores, por exemplo, davam alto grau de credibilidade à Fox News (canal mais assistido por Republicanos), e baixa credibilidade ao New York Times e à CNN, frequentemente atacados pelo presidente Donald Trump. Já entre professores progressistas, ocorria justamente o inverso.

(relatado na mídia)

Urnas eletrônicas




As recentes declarações do presidente nos autorizam a entender que ele não aceitaria um resultado adverso nas últimas eleições presidenciais. Aliás ele vinha condenando as urnas eletrônicas em sua campanha até que em um momento silenciou. Se assumirmos sua desconfiança, teria ele recebido garantias de que estava eleito? Algo assim como: fica quieto que você a taça é sua! Aliás, como ele fez essa nova declaração no estrato de sua visita aos Estados Unidos, que também não acreditam em urnas eletrônicas e o que vale pra eles é vale pra nós, não estaria demostrando mais uma vez sua filiação ao modelo?  Outro corolário: se ele não acredita não está implicitamente autorizando seu adversário a também não acreditar nos resultados?


Exclusividade de O Globo no Rio




O Globo ainda é o único jornal de qualidade no Rio de Janeiro. Sabemos qual é a sua ideologia e o compromisso político. Quem tiver posições contrárias precisa também conhecer a posição do adversário. Quem comparte posição fica mais informado. É assim que funciona. Curioso, em particular, os flamenguistas, que malham a Globo e devem a ela o que são hoje. É aquela coisa de cuspir no prato que comeu. Quanto à TV, é a maior e melhor produtora de conteúdo do país e a única realmente que valoriza o Rio de Janeiro (exceto quando afundou o Brizola mostrando só um lado do governo, o pior), como nas novelas. Eu sou contra a editoria de esportes e aplaudo a produção de entretenimento. Aproveito os comentaristas políticos para me informar, mesmo quando não concordo com o que dizem. É assim que funciona. Faltam jornais expressando opiniões divergentes, o que fundamentaria uma democracia. As informações estão muito concentradas em poucas fontes, o que é ruim.

quarta-feira, 4 de março de 2020

REFLEXÕES SOBRE A IMPOTÊNCIA DA VIDA HUMANA E DA POLÍTICA






Todos os governos em todos os tempos foram sempre de Direita, salvo em curtos espaços de tempo, logo inviabilizados pela concorrência de interesses poderosos que nunca perderam o controle real da vida humana aqui na Terra. Em raros momentos da história, pela soma de ganhos laterais gerados pela acumulação tecnológica, governos mais ligados ao povo alcançaram o poder político. E tentaram implantar processos de integração e participação social, melhor distribuição de renda em sociedade, mas chegaram sempre a um ponto onde as mudanças foram consideradas perigosas, ou excessivas pelas classes dominantes, reais detentoras do poder político, que não precisavam se  mostrar ou ostentar, e os tais governos se viram confrontados com muralhas que não podiam superar. O desgaste da impotência, da capacidade de avançar nas mudanças, geraram insatisfação popular que facilitaram ao poder real se tornar visível e eficaz, assumindo um papel de solução que é falso porque nunca irá enfrentar os obstáculos que geraram insatisfação, porque esses obstáculos não fazem parte de sua práxis e sua agenda. Mais uma vez, como no conhecida “Síndrome de Estocolmo” em que se instala um estado psicológico especial onde uma população submetida por tempo prolongado à sensação de impotência, diante de um governo desgastado por essa impotência, passa a ter simpatia e até mesmo crença, esperança e admiração perante o seu verdadeiro agressor, autor dos obstáculos que justamente inviabilizavam o seu governo e o impediam de ir adiante.  Os governos mais democráticos, são por natureza os mais frágeis, precisam fomentar participação e com isso geram custos em tempo e capacidade decisória, e perdem no confronto com estruturas autoritárias, centralizadoras e capitalistas, chegando a um ponto onde o confronto se dá e a aparência de alternativa viabilizante fortalece a Direita e  produz a sensação enganosa de que  os problemas serão enfrentados e resolvidos, quando na verdade os problemas serão postos de lado e outras prioridades serão trabalhadas com forte apoio da mídia. A Direita se torna explicita e desavergonhada, perde o antigo pudor.
Muita pena que o PT se tenha descarrilhado. Era a única verdadeira alternativa política aos velhos e viciados partidos tradicionais, dominados por artimanhas financeiras forjadas pelas classes dominantes e centradas no capitalismo financeiro. Uma grande pena para o país, porque além do crime hediondo de fomentar o roubo do dinheiro público (todos deviam estar presos e submetidos a vexame para dar exemplo), perdemos a chance de viabilizar um partido de Esquerda no país.
Dito isto, estamos diante de um impasse. Sabemos o que precisaria ser feito para obter melhor distribuição de renda e dos benefícios civilizatórios, mas somos impotentes para viabilizar os caminhos desenhados. Textos como os de FHC na atualidade pontam o que precisa ser feito, mas não elucidam como.
Creio que estamos de acordo que não devíamos, por princípio, votar em reeleições e em parentes de eleitos, a democracia necessita rotação no poder, e que todos os postos públicos deviam ser ocupados por concurso, valendo para tribunais superiores e similares. Mas como viabilizar essas escolhas?
Sabemos que eleição não pode ser confundida com produto comercial e submetida a propaganda enganosa, os candidatos deviam ser obrigados a cumprir suas promessas de campanha a menos que novas circunstâncias possam explicar suas mudanças, que precisarão ser muito bem justificadas às nossas autoridades encarregadas de garantir que eleições não são anúncios de sabonetes ou cervejas, que você pode recomendar uma e usar outra. Mas, e daí?
Podem variar os discursos e as intenções geralmente mesquinhas e imediatistas dos candidatos, mas a grande nação seguirá o mesmo rumo já traçado de país periférico, com algum economista neoliberal assegurando a preservação dos compromissos internacionais e um pequeno clube de notórios economistas liberais confeccionando o bolo governamental.

Nota: A diferença entre governos de Esquerda e de Direita, é que este governa, por  natureza, para o capital e a classe dominante, promove concentração de renda e reforça diferenças de classe, na expectativa teórica de que essa estratégia produz abundância suficiente para distribuir as sobras entre os simples mortais.  Não tem compromisso com democracia. O governo de Esquerda (não o governo populista, que se diz de esquerda, mas se comporta à direita) confia na distribuição precoce de renda como mecanismo estimulador da economia, incluindo participação social e investimento público em áreas estratégicas. E persegue a democracia como meta ideológica.


Menos pessoas procuram emprego e inatividade bate recorde




No conjunto um cenário extremamente preocupante, pois cada trabalhador desempregado ou subempregado, ou informalizado precariamente, representa uma perda de recursos para o país. Cada ser humano que deixa de produzir, por qualquer razão, é um recurso que o país deixa de utilizar.
De acordo com o IBGE, a queda do desemprego em relação ao trimestre anterior se deu em função do aumento da população fora da força de trabalho, ou seja, pessoas que não estão procurando emprego e nem trabalhando. Na comparação com o trimestre terminado em outubro, houve alta de 1,3%, o que equivale a um contingente de 873 mil pessoas.
O aumento da inatividade é comum em meses de janeiro, em função das férias escolares, mas foi a maior expansão já registrada para trimestres encerrados em janeiro, segundo o IBGE. Com isso, o total de pessoas fora da força de trabalho chegou a 65,733 milhões – patamar recorde desde o início da pesquisa, no primeiro trimestre de 2012. Há 1 ano, eram 65,277 milhões. Informalidade ainda atinge 40,7% da população ocupada.   A taxa de informalidade recuou de 41,2% no trimestre de agosto a outubro de 2019 para 40,7% no trimestre encerrado em janeiro, representando um total de 38,3 milhões de trabalhadores informais.
É o país jogando pro alto seus mais preciosos recursos, os humanos.
Fevereiro 2020

segunda-feira, 2 de março de 2020

Doping financeiro no Futebol (cont)




Dou-me conta, por acaso, que o Flamengo está jogando sempre no Maracanã. É uma vantagem esportiva muito grande e expressa o momento do futebol carioca onde um time tem dinheiro vazando e nunca teve escrúpulos de os aplicar em benefício das conquistas (por isso duvidosas) do clube.   O clube já tem uma história de eventos questionáveis (expulsões de jogadores do Atlético Mineiro em 1981, dirigente encontrado com uma mala de dinheiro em véspera de clássico, compra forçada de jogadores de times de confronto direto etc.). No recente campeonato não parece difícil convencer os times pequenos a transferir seus direitos de mando de campo para jogar no Maracanã. E olha que é fácil entender como se torna importante para seus jogadores atuar no Maraca, mas os resultados esportivos ferem não apenas interesses do time pequeno, mas de todo o torneio, desvirtuado-o em seu eventual equilíbrio.  O “Doping Financeiro no Futebol” já está sendo um problema na Europa, mas vai ainda tardar a incomodar por aqui, onde diretorias dos times grandes já entram com heranças malditas de administrações anteriores e não conseguem superar o desastre financeiro. Então vemos as vitórias óbvias, que a mídia, também comprada, trata de engrandecer. Mas alguns de nós, que estudamos e trabalhamos com esse esporte não somos tontos. Um dia chegará, de condenar essas atitudes antidesportivas flagrantes.
“Torcedores do Bayern estenderam uma faixa na arquibancada com um palavrão dirigido a Hopp, que fez fortuna com uma empresa de software e há anos começou a investir no Hoffenheim, levando o time da sexta à primeira divisão. Os aportes milionários testaram os limites das normas da Federação Alemã — conhecida por seu rigor na administração financeira, que inclui regras como a participação obrigatória de torcedores no corpo de acionistas.
À primeira vista seria, então, uma resposta de torcedores raiz à entrada de dinheiro do mundo corporativo no futebol, causando desequilíbrio esportivo. O Red Bull Leipzig tem sido alvo de protestos semelhantes. Paris-Saint Germain e Manchester City, que enriqueceram depois de ser adotados por xeiques árabes, também são questionados, e não só pelas torcidas rivais — o City acaba de ser suspenso pela UEFA das competições europeias”.  O Globo \ coluna do Marcelo Barreto
Isso explica também em parte o suposto conflito com a parceira Rede Globo sobre transmissões dos jogos do campeonato carioca. O Flamengo está consolidando um programa de torcedores para os sábados à tarde no maracanã. O Campeonato Carioca não interessa a nenhum dos dois, virou coisa menor, exceto no dia de levantar a taça (no Maracanã, claro).

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Doping Esportivo II




A demonstração de que o Flamengo assumiu de vez o mando da CBF e do futebol brasileiro é que neste ano, em que o time está claramente mais forte que os demais, estão ressuscitando decisões que serão mais troféus e comemorações para o clube, já transformado em fenômeno no seco e crítico panorama esportivo brasileiro. Com a robusta imagem gerada por uma oportuna administração e a parceria da poderosa Rede Globo, há anos, muitas autoridades no país, entre a justiça e a política, saíram do armário e se declaram agora flamenguistas desde criancinhas. Com o já reconhecido (lá fora) doping esportivo financeiro no futebol, ele enfrentou um Atlético Paranaense já desfigurado, sobretudo sem o técnico original e um jogador estratégico adquirido pelo próprio Flamengo*. A festa continua, e os campeonatos brasileiro e continental ficaram pequenos para a ambição totalitária do clube.
·         
      *Quando um clube fica milionário e começa a comprar o melhor dos demais, ele produz efeito duplo: enfraquece o time do clube adversário e fortalece seu próprio time. Quando faz isso na mesma cidade ou no mesmo torneio está praticando um doping esportivo.  É como se o torneio tivesse duas versões, a de dentro do gramado e a de fora do campo, no tapetão.

O Novo Mundo Novo




Trecho do livro Engenheiros do Caos, que precisa ser lido pelos que têm esperança de manter humana suas cabeças pensantes.
“As deficiências dos líderes populistas se transformam em qualidades, sua inexperiência
 demonstra que não pertencem ao círculo da velha política, e sua incompetência é uma garantia de autenticidade. As tensões que criam em nível internacional são vistas como mostras de independência e as fake-news, marca inequívoca de sua propaganda, evidenciam sua liberdade de pensamento.
No mundo de Donald Trump, Boris Johnson, Matteo Salvini e Jair Bolsonaro, cada dia traz sua própria gafe, sua própria polêmica, seu próprio golpe brilhante. Mal se está comentando um evento e esse já está eclipsado por um outro numa espiral infinita que catalisa a atenção e satura a cena midiática.
No entanto por trás das manifestações desenfreadas do carnaval populista está o trabalho árduo de ideólogos e cada vez mais de cientistas e especialistas do Big Data, sem os quais esses líderes nunca teriam chegado ao poder.”


Mudanças no Futebol




Não é pretensão minha, mas tenho chegado antes que os torcedores e profissionais em atividade, na interpretação do futebol que assistimos hoje. Finalmente a imprensa se dá conta que o VAR não resolveu os problemas de arbitragem.  Eu diria até que transferiu a decisão que era tomada à vista de todos para uma sala fechada onde não podemos ajuizar. Trabalhei quase 20 anos com imagens esportivas e reportagens de contato direto, sei onde residem as feridas. Vou dar dois exemplos que tenho ressaltado: a parceria da Grande Rede com o Flamengo criou uma JBS do futebol que distorce o espírito competitivo e esportivo da atividade. Na Inglaterra o problema está sendo enfrentado com punições severas ao Chelsea e outros. 
Aqui entre nós o colunista Carlos Eduardo Mansur, dos melhores do jornal onde escreve, trata dos erros que persistem na apuração dos impedimentos, com decisões que ferem o espírito do jogo e superam a capacidade humana de observação. Ou seja, dois fotogramas a mais na definição do ponto de partida da mensuração podem mudar o resultado final da revisão feita pelo VAR.  Então entregamos de novo à vista humana a decisão que pode valer milhões aos clubes interessados. A discussão só começou e precisa ser vivida pelos que seguem e curtem o futebol na terra do futebol.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Doping Financeiro no Futebol


😊

O Globo, quem diria? -- liberou com destaque uma matéria sobre o que se está convencionando chamar de doping financeiro no esporte, que tem tudo a ver com o próprio jornal, para o bem ou para o mal, embora a matéria esteja tratando da questão na Inglaterra, onde o fair-play está sendo valorizado para salvar os campeonatos no futuro. Impossível não projetar o tema para o nosso país, onde um time tem se destacado com arrecadações milionárias enquanto outros estão ameaçados de fechar as portas. Como se pode falar em torneios e campeonatos onde a diferença de recursos é abismal? Na Inglaterra as punições já foram aplicadas: por exemplo, o Manchester City foi punido pela UEFA por inflar as receitas de patrocínio e não poderá participar das próximas edições da Liga dos Campeões. Apesar das dimensões, por aqui ainda é um problema tupiniquim e a CBF não tem a força das Federações Europeias, mas é preciso começar a discutir o que vem acontecendo e o valor de campeonatos totalmente distorcidos pelo dinheiro.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

BREXIT da Vergonha




A história da Inglaterra, em quaisquer das versões de ajuntamento das ilhas ao redor, é uma soma de barbaridades. Quem assistiu a Game of Thrones teve uma mostra dolorosa de parte dessa história. Se somamos as  traições e vinganças imortalizadas em quantidade de filmes sobre reis e rainhas vamos chegar a um cenário de horrores. O episódio das Malvinas reafirmou o lado colonialista do país. O esquema de realeza deixado a nu em várias séries mostra a frieza e o cinismo da montagem. O referendo do BREXIT foi mostrado em documentário que foi um golpe informático. Ainda assim não permitiram um novo referendo, mas optaram por eleições, onde não se está votando em favor ou contra a inclusão na Comunidade Européia, todos sabem que aqui como lá a maioria dos votos reflete um conjunto de fatores pessoais e regionais.  Com essa esperteza a liderança direitista do país conseguiu finalmente dividir a nação e aprovar a saída da CE.
O que salva ainda a memória do país é ser a fonte principal do Rock e a moda dos PUBs. (Um crédito ao Liverpool, que tirou a arrogância do novo Flamengo, embora estivesse pagando uma dívida do passado, nunca bem explicada).
Uma pena, mas a CE sem a Inglaterra (esse país vai ter de enfrentar seus esquemas especiais com Escócia e Irlanda) se enfraquece, mas pode ficar mais autêntica, a Inglaterra nunca foi totalmente a favor da Comunidade, veja-se o filme sobre a Thatcher. E no fundo a Inglaterra fortalece o individualismo Norte-Americano, que eternamente faz um jogo para enfraquecer a CE, a única reserva moral no mundo Ocidental a favor da social-democracia, dos valores humanistas e do reconhecimento dos direitos do trabalhador fazer parte inerente das estruturas de poder nacional.
Uma triste decisão que não respeita pelo menos metade da vontade comunitária do país.

sábado, 25 de janeiro de 2020

O Sucesso de uma Parceria




                        
É sabido que a administração do Flamengo nestes últimos anos vem dando exemplo de seriedade e eficiência, ao contrário de dezenas de gestões anteriores quando os negócios escusos com empresários de jogadores, os investimentos mal sucedidos, os desvios de recursos e muitas outras maracutaias vinham minando a capacidade do clube de realizar conquistas significativas nos planos nacional e regional.  Isso aconteceu porque uma geração de flamenguistas ilustres, desses que estão sempre frequentando áreas decisivas do clube sem condição eleitoral de assumir responsabilidades, conseguiu tomar o poder, aproveitando um estado de coisas que era insustentável.  Essa diretoria teve de resistir a pressões tremendas internas e da torcida insatisfeita pela falta de uma equipe de qualidade que trouxesse resultados imediatos. Resistiu e agora colhe o justo proveito da empreitada.
Mas esse projeto pôde ser executado com sucesso porque o parceiro histórico, a Rede Globo, nunca deixou de contribuir e apoiar o clube com sua poderosa rede de emissoras, rádios e jornais. A cota do Flamengo sempre foi muito maior que a dos outros clubes cariocas. As transmissões dos jogos do clube para todo o Brasil continuaram, realizadas com o glamour das operações globais, com um tratamento equivalente a seus programas de auditório e ao Fantástico, o show da vida trasmudado em show do futebol.  E essa parceria vem de 1979 quando, certamente autorizada por Roberto Marinho, que era flamenguista, Walter Clark elegeu o então dono de Cartório Marcio Braga presidente do Flamengo e colocou seu departamento de marketing a serviço do clube. Uma das primeiras iniciativas foi classificar o time para a Libertadores e voar nas asas da Varig (patrocinadora) para o Japão para enfrentar o Liverpool no Torneio da Toyota.
Começou ali a era mais vitoriosa do Flamengo, os anos 80, como se pode observar nos números:   Títulos dos clubes cariocas entre 1933 (início do profissionalismo) e 1979, ano de início da parceria com a Globo:  Fluminense, 14 títulos; Flamengo,13 títulos; Vasco, 10 títulos; Botafogo, 7 títulos.
Entre 1979 e 2019: Flamengo, 16 títulos; Vasco, 10 títulos; Fluminense, 8 títulos; e Botafogo, 7 títulos.
Como se vê foi decisivo o impacto sobre o conjunto dos clubes cariocas. Além da frequência das transmissões, era também importante o fato de que as transmissões do Flamengo eram nacionais, enquanto muitas das transmissões dos outros clubes cariocas dividiam a abrangência com os clubes paulistas. Ou seja, o jogo de Botafogo, por exemplo, se transmitia para o Grande Rio e para o estado do eventual adversário, enquanto um jogo de São Paulo era transmitido para o resto do país. Mas quando era jogo do Flamengo se operava para todo o país. Como a Rede adiantava recursos para os diretores de turno dos clubes, ficava com muito poder para arrumar as tabelas e horários dos jogos, além de gerar dívidas que os diretores dos clubes iam acumulando e transmitindo para seus sucessores.
Obviamente o Flamengo não tem culpa de ser o escolhido, embora nunca tenha mostrado a mínima solidariedade com o drama dos demais clubes. Não era obrigado  a isso, mas também não fazia um trato justo, de fairplay.
As tramoias do Flamengo começaram cedo. Em 1928 um jornal esportivo resolveu lançar um concurso público para conhecer o clube mais popular do país. Os resultados parciais iam aparecendo em consonância com as vendas do jornal e o Vasco liderava com ampla vantagem. Mas nos dias que antecederam o resultado final, o Flamengo fez uma compra de todos os jornais nas bancas da cidade e ganhou a taça, aliás muito bonita, como o time mais popular do Rio de Janeiro, e como capital federal, do país. O mesmo fez Chateaubriand anos depois com a Revista do Rádio para tirar o título de Emilinha ou Marlene e dar à sua amiga cantora Doris Monteiro, que era boa cantora mas não a mais popular.   Comprou todos os exemplares da Revista colocados à venda e colocou no nome dela.
                                           Texto com citações do jornal O Globo

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Reflexões da Vida e da Política



Amanheci reflexivo, talvez pelo mal-tempo e o feriado (20\01\20). Daí recuperar alguns pensamentos do passado, com ajuda do Face. Mas outras reflexões continuam a me pressionar: O saber é conhecimento mais suas circunstâncias. Toda magia -- aprendemos na Antropologia --- pode implicar outra magia de igual poder e sentido contrário. Não devíamos votar em candidatos à reeleição nunca, a rotação no poder é uma das condições da democracia. FHC fez muito mal ao país ao comprar e instituir a reeleição para presidente. Nos lembrava o saudoso sábio Millor Fernandes, o pior malfeitor é o mais inteligente. Eleição não pode ser confundida com produto comercial e submetida a propaganda enganosa, os candidatos deviam ser obrigados a cumprir suas promessas de campanha a menos que novas circunstâncias possam explicar suas mudanças, que precisarão ser muito bem justificadas às nossas autoridades encarregadas de garantir que eleições não são anúncios de sabonetes ou cervejas, que você pode recomendar uma e usar outra. 

Podem variar os discursos e as intenções geralmente mesquinhas e imediatistas dos candidatos, mas a grande nação seguirá o mesmo rumo já traçado de país periférico, com algum meireles assegurando a preservação dos compromissos internacionais e um pequeno clube de notórios economistas liberais confeccionando o bolo governamental.

Muita pena que o PT se tenha descarrilhado. Era a única verdadeira alternativa política aos velhos e viciados partidos tradicionais, dominados por artimanhas financeiras forjadas pelas classes dominantes centradas no capitalismo financeiro. Uma grande pena para o país, porque além do crime hediondo de roubar o dinheiro público (todos deviam estar presos e submetidos a vexame para dar exemplo), perdemos a chance de viabilizar um partido de esquerda no país.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A Falência do Transporte Urbano Carioca

Olha o que diz O Globo sobre os transportes urbanos do Rio, e eu assino embaixo:
“O início de um novo ano é momento oportuno para se repensar a questão da integração tarifária. E ela deve envolver governador, prefeito, deputados, vereadores e as diversas concessionárias. O Rio precisa ter um bilhete integrado para todos os transportes. Outras cidades já fazem isso. Durante décadas, empresários de ônibus — que dominam cerca de 70% do mercado de transporte do Rio — pagaram propina a agentes públicos para defender seus interesses, em detrimento dos cidadãos, como mostram as investigações da Lava-Jato. Conseguiram aumentos de tarifa, isenção tributária, detonaram CPIs. Está mais do que na hora de poder público e concessionárias olharem pelos passageiros”.

Chega de promoção flamenguista



BASTA!  Para os editores esportivos de O Globo só existem jogadores do Flamengo. Há uma semana que inventam histórias de contratados desse mesmo time. O argumento comercial é falacioso porque a diversidade de produtos poderia atrair outros consumidores até mais poderosos que os da urubuzada. É tudo uma farsa e de jornalismo não têm nada, são marketeiros. Não estranha que só nascem torcedores do time da casa. Chega! Basta! Onde está o direito dos consumidores? Têm de se contentar em admirar os mesmo jogadores em rodízio?  Esse jornal deveria respeitar as minorias, está até na Constituição. O que o Globo faz é um massacre! Os  defensores do direito das minorias deviam examinar o assunto. O atual plantel de futebol rubro-negro é superior aos demais, mas o clube não é melhor nem pior, todos os grandes clubes esportivos do estado são equivalentes em história, importância social e participação esportiva em geral.  Chega de privilégios, isso está produzindo uma distorção indesculpável na diversidade social dos habitantes do planeta carioca.

domingo, 12 de janeiro de 2020

Vasco não agrada à Rede


VASCO e Rede Globo:   Há anos que o Globo joga contra o Vasco. Como não pode ignorá-lo, se concentra em notícias negativas: as dívidas do Vasco, a violência da torcida, as dificuldades eleitorais do presidente, os problemas na justiça. Quando sai alguma foto, reduzida em tamanho, é do presidente, do goleiro ou do técnico, que não vestem a camisa tradicional do clube. Imagino que isso começou na transmissão de um jogo decisivo em São Januário quando Eurico Miranda, então diretor do futebol, decidiu gratuitamente colocar o escudo da SBT na camisa vascaína, num jogo transmitido pela Globo. Foi uma atitude isolada, de um dirigente contestado que gostava de provocar. A  outra provocação constante de Eurico que contrariava a Globo era a desafiar o Flamengo nos grandes jogos transformando o clássico em “jogo das multidões. Apesar disso levantar o ânimo dos adversários (o time do Flamengo), o estádio lotava e o grande destaque do campeonato carioca eram as partidas dos dois clubes, contrariando o forte desejo da Globo de tornar o FLAxFLU a maior atração. O Vasco pagava um preço, o time do Flamengo estrava matando e costumava ganhar os jogos. Mas a imagem de grandeza do Vasco ficava evidente. A Globo nunca perdoou as duas provocações e até hoje sabota o Vasco, basta abrir o jornal. Olha as matérias e as fotos. Quando transmite jogos do Vasco não o faz com o charme das transmissões do Flamengo (por exemplo, pouco mostra a torcida) e não leva os jogos para todo o país, apenas para o grande Rio e o estado do adversário, quando é time de fora.  Não admira que a torcida do Flamengo siga crescendo e a do Vasco (que já foi uma das maiores do país) siga minguando, não apenas pelas más administrações, que também acontecem por falta de visibilidade midiática, ajudado pela Globo. Até quando, Catilina?