Todos os governos em todos os tempos foram
sempre de Direita, salvo em curtos espaços de tempo, logo inviabilizados pela
concorrência de interesses poderosos que nunca perderam o controle real da vida
humana aqui na Terra. Em raros momentos da história, pela soma de ganhos
laterais gerados pela acumulação tecnológica, governos mais ligados ao povo
alcançaram o poder político. E tentaram implantar processos de integração e
participação social, melhor distribuição de renda em sociedade, mas chegaram
sempre a um ponto onde as mudanças foram consideradas perigosas, ou excessivas
pelas classes dominantes, reais detentoras do poder político, que não
precisavam se mostrar ou ostentar, e os
tais governos se viram confrontados com muralhas que não podiam superar. O
desgaste da impotência, da capacidade de avançar nas mudanças, geraram insatisfação
popular que facilitaram ao poder real se tornar visível e eficaz, assumindo um
papel de solução que é falso porque nunca irá enfrentar os obstáculos que
geraram insatisfação, porque esses obstáculos não fazem parte de sua práxis e
sua agenda. Mais uma vez, como no conhecida “Síndrome de Estocolmo” em que se
instala um estado psicológico especial onde uma população submetida por tempo
prolongado à sensação de impotência, diante de um governo desgastado por essa
impotência, passa a ter simpatia e até mesmo crença, esperança e admiração
perante o seu verdadeiro agressor, autor dos obstáculos que justamente
inviabilizavam o seu governo e o impediam de ir adiante. Os governos mais democráticos, são por
natureza os mais frágeis, precisam fomentar participação e com isso geram
custos em tempo e capacidade decisória, e perdem no confronto com estruturas
autoritárias, centralizadoras e capitalistas, chegando a um ponto onde o
confronto se dá e a aparência de alternativa viabilizante fortalece a Direita
e produz a sensação enganosa de que os problemas serão enfrentados e resolvidos,
quando na verdade os problemas serão postos de lado e outras prioridades serão
trabalhadas com forte apoio da mídia. A Direita se torna explicita e desavergonhada,
perde o antigo pudor.
Muita pena que o PT se tenha descarrilhado. Era
a única verdadeira alternativa política aos velhos e viciados partidos
tradicionais, dominados por artimanhas financeiras forjadas pelas classes
dominantes e centradas no capitalismo financeiro. Uma grande pena para o país,
porque além do crime hediondo de fomentar o roubo do dinheiro público (todos
deviam estar presos e submetidos a vexame para dar exemplo), perdemos a chance
de viabilizar um partido de Esquerda no país.
Dito isto, estamos diante de um impasse.
Sabemos o que precisaria ser feito para obter melhor distribuição de renda e
dos benefícios civilizatórios, mas somos impotentes para viabilizar os caminhos
desenhados. Textos como os de FHC na atualidade pontam o que precisa ser feito,
mas não elucidam como.
Creio que estamos de acordo que não devíamos,
por princípio, votar em reeleições e em parentes de eleitos, a democracia
necessita rotação no poder, e que todos os postos públicos deviam ser ocupados
por concurso, valendo para tribunais superiores e similares. Mas como viabilizar
essas escolhas?
Sabemos que eleição não pode ser confundida com
produto comercial e submetida a propaganda enganosa, os candidatos deviam ser
obrigados a cumprir suas promessas de campanha a menos que novas circunstâncias
possam explicar suas mudanças, que precisarão ser muito bem justificadas às
nossas autoridades encarregadas de garantir que eleições não são anúncios de
sabonetes ou cervejas, que você pode recomendar uma e usar outra. Mas, e daí?
Podem variar os discursos e as intenções
geralmente mesquinhas e imediatistas dos candidatos, mas a grande nação seguirá
o mesmo rumo já traçado de país periférico, com algum economista neoliberal
assegurando a preservação dos compromissos internacionais e um pequeno clube de
notórios economistas liberais confeccionando o bolo governamental.
Nota: A diferença entre governos
de Esquerda e de Direita, é que este governa, por natureza, para o capital e a classe dominante,
promove concentração de renda e reforça diferenças de classe, na expectativa
teórica de que essa estratégia produz abundância suficiente para distribuir as
sobras entre os simples mortais. Não tem
compromisso com democracia. O governo de Esquerda (não o governo populista,
que se diz de esquerda, mas se comporta à direita) confia na distribuição
precoce de renda como mecanismo estimulador da economia, incluindo participação
social e investimento público em áreas estratégicas. E persegue a democracia
como meta ideológica.
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