quarta-feira, 4 de março de 2020

REFLEXÕES SOBRE A IMPOTÊNCIA DA VIDA HUMANA E DA POLÍTICA






Todos os governos em todos os tempos foram sempre de Direita, salvo em curtos espaços de tempo, logo inviabilizados pela concorrência de interesses poderosos que nunca perderam o controle real da vida humana aqui na Terra. Em raros momentos da história, pela soma de ganhos laterais gerados pela acumulação tecnológica, governos mais ligados ao povo alcançaram o poder político. E tentaram implantar processos de integração e participação social, melhor distribuição de renda em sociedade, mas chegaram sempre a um ponto onde as mudanças foram consideradas perigosas, ou excessivas pelas classes dominantes, reais detentoras do poder político, que não precisavam se  mostrar ou ostentar, e os tais governos se viram confrontados com muralhas que não podiam superar. O desgaste da impotência, da capacidade de avançar nas mudanças, geraram insatisfação popular que facilitaram ao poder real se tornar visível e eficaz, assumindo um papel de solução que é falso porque nunca irá enfrentar os obstáculos que geraram insatisfação, porque esses obstáculos não fazem parte de sua práxis e sua agenda. Mais uma vez, como no conhecida “Síndrome de Estocolmo” em que se instala um estado psicológico especial onde uma população submetida por tempo prolongado à sensação de impotência, diante de um governo desgastado por essa impotência, passa a ter simpatia e até mesmo crença, esperança e admiração perante o seu verdadeiro agressor, autor dos obstáculos que justamente inviabilizavam o seu governo e o impediam de ir adiante.  Os governos mais democráticos, são por natureza os mais frágeis, precisam fomentar participação e com isso geram custos em tempo e capacidade decisória, e perdem no confronto com estruturas autoritárias, centralizadoras e capitalistas, chegando a um ponto onde o confronto se dá e a aparência de alternativa viabilizante fortalece a Direita e  produz a sensação enganosa de que  os problemas serão enfrentados e resolvidos, quando na verdade os problemas serão postos de lado e outras prioridades serão trabalhadas com forte apoio da mídia. A Direita se torna explicita e desavergonhada, perde o antigo pudor.
Muita pena que o PT se tenha descarrilhado. Era a única verdadeira alternativa política aos velhos e viciados partidos tradicionais, dominados por artimanhas financeiras forjadas pelas classes dominantes e centradas no capitalismo financeiro. Uma grande pena para o país, porque além do crime hediondo de fomentar o roubo do dinheiro público (todos deviam estar presos e submetidos a vexame para dar exemplo), perdemos a chance de viabilizar um partido de Esquerda no país.
Dito isto, estamos diante de um impasse. Sabemos o que precisaria ser feito para obter melhor distribuição de renda e dos benefícios civilizatórios, mas somos impotentes para viabilizar os caminhos desenhados. Textos como os de FHC na atualidade pontam o que precisa ser feito, mas não elucidam como.
Creio que estamos de acordo que não devíamos, por princípio, votar em reeleições e em parentes de eleitos, a democracia necessita rotação no poder, e que todos os postos públicos deviam ser ocupados por concurso, valendo para tribunais superiores e similares. Mas como viabilizar essas escolhas?
Sabemos que eleição não pode ser confundida com produto comercial e submetida a propaganda enganosa, os candidatos deviam ser obrigados a cumprir suas promessas de campanha a menos que novas circunstâncias possam explicar suas mudanças, que precisarão ser muito bem justificadas às nossas autoridades encarregadas de garantir que eleições não são anúncios de sabonetes ou cervejas, que você pode recomendar uma e usar outra. Mas, e daí?
Podem variar os discursos e as intenções geralmente mesquinhas e imediatistas dos candidatos, mas a grande nação seguirá o mesmo rumo já traçado de país periférico, com algum economista neoliberal assegurando a preservação dos compromissos internacionais e um pequeno clube de notórios economistas liberais confeccionando o bolo governamental.

Nota: A diferença entre governos de Esquerda e de Direita, é que este governa, por  natureza, para o capital e a classe dominante, promove concentração de renda e reforça diferenças de classe, na expectativa teórica de que essa estratégia produz abundância suficiente para distribuir as sobras entre os simples mortais.  Não tem compromisso com democracia. O governo de Esquerda (não o governo populista, que se diz de esquerda, mas se comporta à direita) confia na distribuição precoce de renda como mecanismo estimulador da economia, incluindo participação social e investimento público em áreas estratégicas. E persegue a democracia como meta ideológica.


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