É sabido que a administração do
Flamengo nestes últimos anos vem dando exemplo de seriedade e eficiência, ao
contrário de dezenas de gestões anteriores quando os negócios escusos com
empresários de jogadores, os investimentos mal sucedidos, os desvios de
recursos e muitas outras maracutaias vinham minando a capacidade do clube de
realizar conquistas significativas nos planos nacional e regional. Isso aconteceu porque uma geração de
flamenguistas ilustres, desses que estão sempre frequentando áreas decisivas do
clube sem condição eleitoral de assumir responsabilidades, conseguiu tomar o
poder, aproveitando um estado de coisas que era insustentável. Essa diretoria teve de resistir a pressões
tremendas internas e da torcida insatisfeita pela falta de uma equipe de
qualidade que trouxesse resultados imediatos. Resistiu e agora colhe o justo proveito
da empreitada.
Mas esse projeto pôde ser executado com sucesso porque o parceiro
histórico, a Rede Globo, nunca deixou de contribuir e apoiar o clube com sua
poderosa rede de emissoras, rádios e jornais. A cota do Flamengo sempre foi
muito maior que a dos outros clubes cariocas. As transmissões dos jogos do
clube para todo o Brasil continuaram, realizadas com o glamour das operações
globais, com um tratamento equivalente a seus programas de auditório e ao
Fantástico, o show da vida trasmudado em show do futebol. E essa parceria vem de 1979 quando,
certamente autorizada por Roberto Marinho, que era flamenguista, Walter Clark
elegeu o então dono de Cartório Marcio Braga presidente do Flamengo e colocou
seu departamento de marketing a serviço do clube. Uma das primeiras iniciativas
foi classificar o time para a Libertadores e voar nas asas da Varig
(patrocinadora) para o Japão para enfrentar o Liverpool no Torneio da Toyota.
Começou ali a era mais vitoriosa
do Flamengo, os anos 80, como se pode observar nos números: Títulos dos clubes cariocas entre 1933
(início do profissionalismo) e 1979, ano de início da parceria com a
Globo: Fluminense, 14 títulos;
Flamengo,13 títulos; Vasco, 10 títulos; Botafogo, 7 títulos.
Entre 1979 e 2019: Flamengo, 16
títulos; Vasco, 10 títulos; Fluminense, 8 títulos; e Botafogo, 7 títulos.
Como se vê foi decisivo o
impacto sobre o conjunto dos clubes cariocas. Além da frequência das
transmissões, era também importante o fato de que as transmissões do Flamengo
eram nacionais, enquanto muitas das transmissões dos outros clubes cariocas
dividiam a abrangência com os clubes paulistas. Ou seja, o jogo de Botafogo,
por exemplo, se transmitia para o Grande Rio e para o estado do eventual
adversário, enquanto um jogo de São Paulo era transmitido para o resto do país.
Mas quando era jogo do Flamengo se operava para todo o país. Como a Rede
adiantava recursos para os diretores de turno dos clubes, ficava com muito
poder para arrumar as tabelas e horários dos jogos, além de gerar dívidas que
os diretores dos clubes iam acumulando e transmitindo para seus sucessores.
Obviamente o Flamengo não tem
culpa de ser o escolhido, embora nunca tenha mostrado a mínima solidariedade
com o drama dos demais clubes. Não era obrigado
a isso, mas também não fazia um trato justo, de fairplay.
As tramoias do Flamengo começaram
cedo. Em 1928 um jornal esportivo resolveu lançar um concurso público para
conhecer o clube mais popular do país. Os resultados parciais iam aparecendo em
consonância com as vendas do jornal e o Vasco liderava com ampla vantagem. Mas
nos dias que antecederam o resultado final, o Flamengo fez uma compra de todos
os jornais nas bancas da cidade e ganhou a taça, aliás muito bonita, como o
time mais popular do Rio de Janeiro, e como capital federal, do país. O mesmo
fez Chateaubriand anos depois com a Revista do Rádio para tirar o título de
Emilinha ou Marlene e dar à sua amiga cantora Doris Monteiro, que era boa
cantora mas não a mais popular. Comprou
todos os exemplares da Revista colocados à venda e colocou no nome dela.
Texto com citações do jornal O Globo