Martha Medeiros não é nenhum gênio literário, mas dá conta de sua
coluna do cotidiano das relações sociais. E gosta de cinema. Ela hoje recomenda
um filme de Ken Loach, “Você Não Estava Aqui” que a deixou angustiada. Ken
Loach é o diretor do também premiado “Eu, Daniel Blake” que tratava do
isolamento de idosos que não conseguem se encaixar na sociedade informatizada. “Desta vez, Loach mostra as consequências da
informalidade e do trabalho autônomo como única opção. Nada de férias
remuneradas, seguro-saúde, seguro-desemprego, aposentadoria. É pegar ou largar”.
A pequena empresa é uma tradição da Europa e foi criticada politicamente por MARX como atividade de pequenos
burgueses não revolucionários. Na
sociedade contemporânea, em que as revoluções sociais minguaram, o papel das
classes médias se tornou relevante. E a venda da ideia de micro e médio -- empreendedores
não chega pela tradição, mas como um sonho de remédio pela falta de empregos. Martha
captou bem o desastre: “O que mais deprime é que
o filme não parece ficção, e sim um documentário sobre a atualidade. Empreender
é uma opção quando se tem suporte, reservas, uma boa rede de contatos. Para
quem está sempre começando do zero, é uma ilusão. Você não pode adoecer. Não
pode envelhecer. Não pode viver — só trabalhar”. Infelizmente os governos alimentam
essa ilusão e deixam que se danem os brasileiros que colocam seus parcos
recursos em risco e se ferram em geral. Para quem tem interesse no tema, o
filme é um bom programa.
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